Ah! O poder dessas três palavrinhas… Como é libertadora a sensação de caminhar até seu chefe e falar um sonoro “Eu me demito” com muitas exclamações!!!

Palavra de quem já viveu isso!

Mas, atenção: estou falando de demissão e não de “pedir as contas”. Você pede as contas quando encontra uma oportunidade melhor na concorrência ou um novo cargo na filial. Você comunica sua demissão ao escolher a pílula vermelha para viver fora da matrix corporativa, ao dar opt-out.

Acho que todo mundo já fantasiou em se demitir (com mais ou menos dramaticidade, dependendo do sujeito), seja por saco cheio, raiva do chefe ou aquela birra do “queria ver o que eles fariam sem mim”. Mas o “Eu me demito!” de fato sempre é o resultado de um processo de busca interior.

É preciso coragem, sim. Muita coragem para olhar pra dentro e se fazer a pergunta de 1 milhão de patacas: é isso que eu quero pra minha vida? É essa a MINHA visão de sucesso?

Quando a resposta é um sonoro e retumbante NÃÃÃÃOOOO, o ser humano só tem dois caminhos possíveis: o que possivelmente vai leva-lo ao hospital antes dos 40 anos ou o que vai culminar no “Eu me demito!”.

O que vai determinar o tempo entre o NÃO e o “Eu me demito!” é uma combinação de planejamento, autoconhecimento e confiança no próprio taco. Mas é certo que ninguém consegue (ou deveria) conviver com tamanho estupro emocional/mental por muito tempo. Ainda assim, a inércia e a insegurança mantêm muitos dentro da matrix.

Como qualquer grande revolução, o “Eu me demito!” precisa de um estopim. Pode ser um feedback mal dado, a volta das férias, o nascimento dos filhos ou minas menos visíveis. No meu caso, por exemplo, me deparei com um dilema moral que me empurrou de vez pra fora da matrix. Eu sabia que eu não comprometeria meus valores com a tal situação, logo, eu estava fora.

A demissão produz uma mistura de alívio, medo, redenção e alegria capaz de anestesiar o corpo e a mente. E, se você se permitir, capaz de expandir a alma.

Escolher viver fora da matrix é passar a ver o mundo, o cotidiano e os problemas com outros olhos. É sentir-se vagando por um familiar campo minado com a leveza de quem pula amarelinha, sem se deixar afetar.

Do lado de cá da vida, as relações corporativas parecem mais superficiais e os problemas do trabalho, uma sequência de caprichos de crianças birrentas. As cores parecem mais vivas, o tempo, mais humano e a experiência, mais autêntica.

A dor é real. A alegria é real. As decisões são artesanais e as conquistas são A-U-T-O-R-A-I-S.

O “Eu me demito!” leva um tempo para assentar. Assim como no filme, os efeitos da escolha da pílula vermelha são gradualmente sentidos e levam tempo até se esgotarem (se é que se esgotam). Sem querer, você se pega repetindo ideias e opiniões absorvidas por osmose. Se vê refletindo sobre a falta que o intervalo do café lhe faz. Até que… Opa! Peraí! Mas será que eu ainda preciso do intervalo do café? Será que tal opinião me representa?

E, aos poucos, você descobre que há vida fora daquela empresa! O abracadabra corporativo vai cedendo e deixando ver o mundo, a alma per se. Só o que realmente importa na vida. Mais vida. Mais mundo. Mais nós mesmos.