A somatória de frustrações e decepções que enfrentamos ao longo da vida em diversas áreas vai criando em nós uma casca de traumas, receios e medos.

Os anos passam e vamos ficando bundões.

Cheios de mimimis e não-me-toques.

Precisamos com urgência equilibrar nossas emoções para não deixar que tais destemperos destruam os relacionamentos que desejamos manter. Até porque, muito antes de isso acontecer, possivelmente nos terão destruído por dentro.

Devemos respeito a nós mesmos.

Se nosso pé dói, é preciso ver se há algum calo, alguma pedra no sapato, se fraturou, se a palmilha está desgastada. A dor sinaliza que algo está errado e precisa de tratamento.

Se ignoramos uma dor no pé, ela pode se agravar: é ferida que aumenta, é pedra que machuca, é osso que cola do jeito errado, é pisada que prejudica a postura. As consequências podem ser graves e penosas.

De igual forma, quando sublimamos nossos sentimentos e passamos por cima de uma dor emocional que nos incomoda, estamos deixando de lado um alerta de nossa mente: algo está errado e precisa de tratamento.

E as consequências também podem ser graves e penosas.

Não buscar a cura para essa dor é como ignorar aquele bipe do pneu que está sendo enchido. Se mantivermos o ar entrando e não conseguirmos lidar com a pressão, explodiremos.

Eis aqui algumas ideias que podemos, então, colocar em prática, em busca de mais respeito a nós mesmos e, consequentemente, a todos os que nos rodeiam:

1. Pare de ter medo do que os outros pensam

Quando deixamos de nos posicionar ou de dar nossa opinião por medo do que os outros pensam, estamos sendo juízes. Sim, estamos usando o chapéu do colega por ele, sem sequer dar-lhe chance de nos provar errados.

Se você já teve algum tipo de retaliação por dizer o que pensa, provavelmente estava falando com as pessoas erradas. Ou do jeito errado.

Tente entender que esse trauma, por pior que tenha sido, não é regra. Seja você.

2. Pare de mentir e dizer que tudo está bem quando não está

Sabe aquele “tudo bem” que você educadamente responde a alguém que te cumprimenta pela manhã? Se você disser o que, de fato, sente, talvez vire persona non grata, não é mesmo? Em geral, o ser humano usa essa pergunta apenas por educação, e não porque está a fim de ouvir sua verdadeira resposta.

Acontece que, para você mesmo, não adianta usar a velha expressão “ah, tudo bem, vai passar…” quando o que você sente é que tudo está desabando. Por quanto tempo você consegue se enganar? Encontre alguém de confiança, se necessário um profissional, e diga que não, não está tudo bem.

3. Pare de morrer para as partes erradas de você mesmo

Não se sacrifique por aquilo que não vale a pena. Se é um esforço enorme para você fazer determinada tarefa, analise se ela é mesmo tão necessária. Será que todas as roupas precisam ser passadas ou é possível pendurar algumas bem esticadinhas no varal e mandá-las direto pra gaveta? Aquele encontro com os tios-avós do seu primo de terceiro grau que te faz sofrer mensalmente no seu único dia de descanso é mesmo mandatório, ou você pode fazer uma ligação de vez em quando para manter os laços familiares em dia? Aquele problemão da empresa tem que entrar com você dentro de casa e acabar com o fim de semana ou pode ficar no escritório para ser gerenciado na segunda-feira?

4. Pare de negar a raiva, a tristeza e o medo

Desde crianças, aprendemos que é feio ficarmos bravos, que não precisamos chorar e que não precisamos ter medo. Assim, ignoramos completamente como lidar com esses sentimentos quando adultos. A raiva ajuda a extravasar coisas ruins que precisam sair de nossas mentes de forma saudável, e não prejudicial a outros. A tristeza nos faz digerir situações e crescer com elas. O medo nos ensina que não somos heróis e permite que fiquemos atentos a possíveis consequências ruins de nossas ações. Sinta raiva. Fique triste. Tenha medo. E aprenda a lidar com eles – em vez de fingir que não existem.

5. Para de culpar a si mesmo e às outras pessoas

Vitimização é doença. Transferência de culpa também. Por que precisamos achar culpados? Que mania inútil o ser humano tem de buscar responsáveis para condenar por X ou Y. Bola pra frente, gente. Deu merda? Partiu resolver! A outra opção é ficar atolado na lama da culpa que não nos leva a lugar algum.

6. Pare de se sobrecarregar

Aprenda a dizer não. Entenda que negar uma coisa que você não pode (ou não quer) fazer não é falta de educação. É autoconhecimento. É respeito a si próprio. Muito pior é dizer sim e depois dar mancada.

7. Pare de ter pensamentos errados

Colha todas as informações antes de formar uma opinião sobre algo, em vez de cultivar o (mau) hábito de tirar conclusões antecipadas. Deixe as pessoas terminarem de falar. Tente se colocar no lugar delas. De novo: não somos juízes uns dos outros.

8. Pare de viver a vida de outra pessoa

Sua mãe queria ter sido bailarina e você faz aulas de dança desde os 5 anos, mesmo odiando rodopios? Seu chefe sonha com uma carreira internacional e você se sente obrigado a estudar três idiomas simultâneos para agradá-lo? Seus netos são tão conectados que você se sente culpado quando não consegue gravar um áudio no WhatsApp sem parecer um completo ignorante digital?

A vida de cada um de nós é única e intransferível.

Comanda individual, camarada.

Não aceite como balizas as expectativas que outras pessoas colocaram sobre você, e corra atrás de um destino que seja fruto de suas próprias escolhas.

Desenvolvi essa reflexão com base nos conceitos do livro Espiritualidade Emocionalmente Saudável, de Peter Scazzero. Se você se interessou, faça a si mesmo o favor de permitir que esse conteúdo mude sua vida, como fez com a minha.