Mundo cheio de paz, natureza preservada, governantes responsáveis, famílias unidas, pessoas cordatas, amáveis, solidárias… Será isso possível?

Uma vez fui ao consultório de uma amiga dentista, dessas que são extremamente organizadas e exigentes com a higiene e a limpeza. Estava um caos: a escada toda quebrada, pó e entulho por todo canto. Os pedreiros trabalhavam em ritmo acelerado para concluir a reforma. Caixas abertas deixavam ver o novo piso, de muito bom gosto.

Quando ela começou a se desculpar pela bagunça, falei a frase de “O Pequeno Príncipe”, de  Antoine de Saint-Exupéry:

“Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.

Ela ficou calada por um instante, suspirou e depois sorriu:

– É verdade! Obrigada por me lembrar disso.

Transferindo a ideia para os relacionamentos (para não deixar de bater na mesma tecla), sempre há algumas larvas para suportar.

Se não fosse assim, amizades e casamentos estariam destinados a perder o viço e até mesmo a acabar num piscar de olhos. Isso porque quase nunca há boa vontade para tolerar o modo de ser e de reagir do outro.

É muito fácil se irritar com o comportamento alheio.

Por que será que só o nosso jeito tem de ser o certo?

Parece que ninguém se lembra de que cada um tem uma história de vida diferente, foi educado e recebeu influências de diversas pessoas, regiões e culturas variadas. Daí as divergências e as atitudes que perturbam tanto. São larvas, sem dúvida, mas que, se cuidadas adequadamente e toleradas com paciência, poderão sofrer linda metamorfose.

Não é difícil encontrar casos de pessoas que tiveram o prazer de presenciar transformações profundas naqueles que amam, sem imposição, mas pela influência da própria gentileza, educação e generosidade.

Suportar não significa aguentar a chatice de alguém, mas dar suporte, sustentar.

“Suportai-vos uns aos outros em amor” – aconselhou o apóstolo Paulo, o mesmo que afirmou num lindo texto que o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Que tal começar a suportar as larvas? Poderemos nos surpreender com borboletas incríveis!

Post original do Blog “Crônicas da Alma