Há não muitos anos, a moda era planejar-se para ganhar o primeiro milhão. Pisquei. Acordei agora, em 2017, lendo um texto motivacional (mentira, só li o título) que me prometia revelar os X passos para juntar meu primeiro bi-lhão.

Ah, essa história dos X passos. Títulos caça-cliques, quem nunca? Como o ser humano é maluco por coisas fáceis, né? Ô, gente doida por receita de bolo.

Se fosse tão simples conseguir o primeiro bilhão, será que o estimado sujeito estaria ensinando suas valiosas táticas ninja gratuitamente, assim, por puro altruísmo?

Vem ser meu amigo, professor! Tô precisada.

Outra coisa que me intrigou foi a palavra “PRIMEIRO” antes do “bilhão”. Virão outros, o segundo, o terceiro, o quarto, então!? Claro, como fui me esquecer disso? Dinheiro atrai dinheiro. Mais. Mais. Mais.

Será que preciso de um upgrade no meu nível de ambição?

Se gosto de dinheiro? Lógico que sim. Ele serve para que eu possa viajar, digo, viver. E imagino que também será muito útil para garantir minha aposentadoria quando, somehow and someday, eu conseguir juntar o suficiente para obter das economias uma renda que me permita uma velhice confortável.

Mas… bilhões?

É muito esquisito eu não querer tantos bilhões para ser feliz?

Fico pensando no que eu faria com bilhões. Claro que eu adoraria ter um iate. No entanto, a minha rotina – e mente de pobre – hoje não me permitem pinçar sequer um final de semana por mês que eu separaria para andar de iate (ou seria velejar? Tá vendo? Nem verbo de rico eu sei empregar bem).

Sabe a primeira coisa que penso em fazer com um iate? Vender para um gringo tiozão, daqueles bem boa pinta e xavequeiro. Mais inteligente e safado do que eu, ele mandaria pintar no iate o nome da garota que estivesse a fim de namorar. Sua paquera novinha chegaria naquela mansão em Angra e – oh, que coincidência! – o iate aportado ali teria sido batizado em sua homenagem! Que romântico! Mais champanhe francês, monamour? Bang.

Claro que estou exagerando, e que seguramente adoraria não ter de me preocupar com o saldo bancário pelo resto dos meus dias. Mas fico me questionando sobre a ganância do ser humano.

Quanto dinheiro é suficiente para que eu atinja meus objetivos?

Pergunto-me: alcançado o tal alvo, será que me contentaria? Ou ficaria tentada a obter sempre mais, mais, mais…?

Ainda sobre o bilhão, porque essa coisa está martelando minha mente e alimentando minha insônia: são nove zeros antes da vírgula, se calculei bem.

Com a renda boba de uma poupança, tal dinheirama já daria um retorno interessante por mês, se aplicada, lá, quietinha, sem risco algum. Se falarmos de produtos financeiros melhores como o Tesouro Direto, por exemplo, o negócio ficaria mais bacana ainda. No entanto, pergunto: você sabe se um bilhão na conta é o bastante para você?

Dando um passo mais fundo na reflexão: será que sabemos quanto dinheiro nos seria suficiente para atingir os objetivos que idealizamos?

Ou estamos que nem a Alice, indo por qualquer caminho, já que não fazemos ideia de onde queremos chegar?

Acho que a pergunta principal é: por que preciso de tantos dinheiros por mês?

Tenho sonhos, amo viajar, quero proporcionar uma vida legal para minha família, preciso viver da minha própria renda ao aposentar, penso em colaborar com causas nobres. Desejos legítimos, ninguém pode negar.

Mas quanto dinheiro é necessário para viver bem? Aliás, o que é viver bem?

Para mim, certamente não é dedicar meu tempo a ganhar bilhões e não ter horas suficientes para desfrutar da vida que, plim!, passou.