Já passou da hora de entendermos e aceitarmos algumas consequências que nós, seres humanos, causamos durante nossa “pacata” passagem por este mundo, durante alguns tantos de séculos. E o racismo é uma realidade da qual não podemos nos esconder ou, simplesmente, sublimar.
Desde que o mundo é mundo, temos dificuldade de viver em sociedade. Mas, sejamos sinceros: o modelo de sociedade que o ser humano foi desenvolvendo, com o passar do tempo, não evoluiu muito a ideia de igualdade…
Este texto não irá analisar a sociedade, nem a hierarquia, nem o modo de vida do ser humano ao longo dos séculos. Mas é importante ressaltarmos que essa dificuldade do ser humano em ter relações sociáveis pode ser um dos pilares das grandes desavenças e até das guerras mundiais que já tivemos até hoje (ou ainda estamos tendo, infelizmente).
Existe racismo, sim. E a palavra “racismo” significa, em linhas gerais, “pensamentos exteriorizados, atitudes e imposições de uma pessoa que se sente superior à outra por causa da raça”.
Os negros representam 54% da população no Brasil, de acordo com o último estudo do IBGE. Porém, procure ao seu lado, em sua empresa, em cargos de gerência, chefia, coordenação: tem algum negro? Se sua resposta for positiva, trata-se de um minúsculo caso perto da avassaladora maioria que nem sequer tem colegas de trabalho negros.
Forçando um pouco sua memória: quantos negros estudavam com você no colégio? Quantos dos professores eram negros? E diretores? Se a resposta for maior que 5, que bom: você viveu numa escola em que a discrepância era menos pior do que a esmagadora maioria.
Você conhece mais que um empresário brasileiro negro? E diretor de uma grande empresa nacional? Representante negro do Brasil no exterior?
Agora seja sincero: quantas empregadas morenas ou negras você já conheceu? Quantos garis morenos ou negros você já viu? Você acha isso tudo uma coincidência? Forçação de barra? Na minha minúscula e modesta opinião, penso que não.
Por inúmeras justificativas lastimáveis, o negro foi subjulgado durante os séculos. E isso continua se refletindo nas oportunidades profissionais e até na possibilidade – ou não – de obter educação de qualidade.
Não é minha culpa. Nem sua. Mas é necessário que busquemos a consciência de que isso existe, sim! E ponto.
Dia 20 de novembro foi instituído o dia da Consciência Negra no Brasil. É o mesmo dia em que um cara chamado Zumbi dos Palmares foi morto, no ano de 1695, lutando pela libertação dos escravos. Libertação esta que veio apenas 193 anos após sua morte.
Alguns estados e cidades recepcionaram a data como feriado, outros não. Guardadas todas as devidas proporções políticas, regionais e etc., feriado ou não, este dia deveria ser um dia pra refletirmos nos impactos que, ainda hoje, sofremos, por essa ideia besta de que por pertencer a uma raça diferente da minha, o fulano não pode ter a mesma oportunidade que eu.
Eu sou descendente de índio, de negro, de português, de espanhol, de libanês. Minha pele é parda, mas meu cabelo não é enrolado. Mas nada disso importa pra mim, quando o assunto é refletir sobre igualdade de direito.
A melhor definição, pra mim, de igualdade, foi feita por Aristóteles, e abraçada por nossa Constituição de 1988, utilizando-a como princípio constitucional de igualdade: “Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida da sua desigualdade”.
Justiça, muitas vezes, é desigual. A noção de igualdade é mais profunda do que oferecer os mesmos direitos a todas as pessoas. Igualdade significa tentar diminuir as desigualdades entre as pessoas, seja pelo motivo que for.
E, no caso dos negros, a desigualdade veio do berço esplêndido da nossa colonização, infelizmente.
É preciso repudiar ações racistas, sim. Não podemos aceitar discursos de ódio, discriminatórios e depreciativos por causa da raça de alguém. Não dá pra aceitar esse tipo de representante nos Poderes que regem nosso país. Não dá pra ser conivente com professores, empresários, ou profissionais de qualquer ramo que disseminam essa ideia inaceitável de diferença por raça.
Não conseguiremos extinguir o racismo. Nem a desigualdade de direitos e oportunidades entre brancos e negros. Mas se conseguirmos ensinar, através do nosso exemplo, nossos filhos, sobrinhos, alunos e primos que somos iguais, podemos acreditar que esse plantio, uma hora, vai germinar.
E que a floração do plantio da igualdade de raças seja uma sociedade menos dura e mais humana.
Com todos os seres humanos.
Consciência, sim.
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