Sou entusiasta de bons filmes e séries e “De Repente 30” passa longe da minha lista de favoritos.

No entanto, me motivei a escrever sobre o filme, na verdade sobre que sentido esse filme expressou para mim por trás do apelo de “comédia romântica moderna com toque de nostalgia anos 80”. Sem desmerecer a nostalgia anos 80, que tem seu lugar cativo nos corações dessa nossa “Geração Coca-Cola”.

“Não quero ser original, quero ser legal.”

A frase dita pela protagonista Jenna no início do filme resume o conflito central da narrativa da comédia romântica e de nossas vidas dos 13 ao 30.  No início da adolescência vivemos a primazia da aceitação pelo grupo em detrimento da auto aceitação para atender a uma necessidade essencial humana: o pertencimento.

O problema é que, nessa fase, poucos tem a habilidade de atender essa necessidade sem precisar reprimir seu próprio jeito ou o rotular como esquisitices.

E, assim, muitos de nós adentramos os 20 anos fazendo escolhas sociais, acadêmicas e profissionais ainda guiados por regras e padrões externos. E vamos vivendo. Pelo menos por mais uma década.

Até que, de repente, 30! E com algumas rugas e alguns cabelos brancos, chega também uma espécie de consciência que percorre cada pedacinho de nossa alma, como um investigador minucioso, encontrando pistas do que já deixamos de ser, do que resolvemos ser e do que achávamos que íamos ser.

Essa consciência confronta nossas escolhas, expõe implacavelmente nossas vulnerabilidades e promove acareações entre o que fazemos e o que falamos.

E aí vem as terapias, as mudanças, a revisitação às nossas histórias, à nossa essência. A própria nostalgia que chega com força nessa época é um indicador disso.

A menina de 13 que desperta um dia no corpo da mulher de 30 simboliza, no filme, essa consciência que surge “de repente” e passa a questionar nosso modo de vida.

A chave está em aceitar a presença desse investigador. Recebê-lo bem, quem sabe com café e biscoitos. Facilitar o caminho. Permitir a quebra dos sigilos e de nossas cabeças duras, às vezes mais preocupadas em ter razão do que em ser felizes.

O trabalho é árduo. Vai durar mais uma década, pelo menos. Mas encará-lo é abrir o caminho para se aceitar.

Até porque, de repente, 40! E tudo indica que, desde já, é muito mais atraente ser original que ser legal.