A gente cresce com os pais dizendo que é preciso experimentar tudo. Prova, prova! Eu ouvi isso um monte de vezes. Muitas vezes, eu provava. E hoje agradeço muito ao meu pai por ter insistido demais nisso: “você não pode dizer que não gosta se você não experimentou”.
E foi assim que eu fui descobrindo uma porção de sabores incríveis: do caju com sal, da pitanga madura, da cereja, do morango ou da cenoura recém-colhida, da carne de porco temperada com alecrim, dos cozidos feitos sem pressa, dos temperos fortes, suaves, intensos. Tudo mesmo.
Lembro do dia em que um amigo do meu pai, um japonês de sorriso fácil, tio Kami (sim, ele será eternamente meu tio de coração), chegou em casa com fatias muito finas de peixe cru, que ele passava em um líquido escuro, um tal molho shoyu.
Hoje, pode parecer muito normal ver, provar, saborear um sashimi. Mas nos anos 1970, início dos 80, isso era bem exótico. Tio Kami insistiu, fiz cara de poucos amigos. Ele deu uma risada gostosa, de fechar os olhos. Lembrei do que meu pai sempre me dizia: prove, tudo. Provei e não gostei, mas também não odiei. Achei estranho e só. Provavelmente porque não fazia parte do meu repertório. Anos depois, a comida japonesa virou moda e eu aprendi, de vez, a gostar desse sabor tão legítimo, tão sútil, delicado e próprio.
Dias desses, me embrenhei a fazer yakisoba em casa. Clara comeu até esvaziar o prato. Mas o Lucas não conseguiu nem sentir o cheiro.
“Prova, Lucas”.
Ele até tentou, mas não conseguiu dar sequer uma garfada. Não insisti. Acho que cada um tem seu tempo. E talvez meu menino precise da distância para amadurecer seu querer. E tudo bem.
Só gostaria, de verdade, que ele não criasse amarras imaginárias e medos irreais, porque esses sim são difíceis de lidar. A vida é cheia de cores, de cheiros e sabores e a gente precisa aprender a provar sempre e definir o que agrada ou não o nosso corpo e a nossa alma.
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