Pelo título você pode imaginar, como eu, que ele deve conter segredos obscuros e sórdidos das autoras. E o mais legal é que ele contém, sim, confissões. Das duas escritoras. Mas que poderiam ser minhas ou suas: medos, inseguranças, formas de ver a vida…

O livro “Que ninguém nos ouça” é composto por uma troca de e-mails entre as autoras, nos quais relatam experiências, questionamentos, confrontos, tudo com muito bom humor e gosto pela vida.

Cris Guerra, uma verdadeira guerreira. Antes de ser colunista na revista “Pais&Filhos”, começou um blog, “Para Francisco”, contando para ele histórias sobre seu pai falecido dois meses antes de seu nascimento. O blog se tornou livro e futuramente terá espaço nas telonas. Sobre o tema, também escreveu o livro “Mãe”. Conhecida ainda por seu trabalho com moda, por ter criado o primeiro blog de looks diários do Brasil (“Hoje vou assim”), lançou o livro “Moda Intuitiva”.

Leila Ferreira é jornalista e escritora. Já fez programas de TV, trabalhou como repórter na Rede Globo Minas e no SBT Minas teve seu programa, “Leila Entrevista”, por 10 anos. Escreveu “Leila Entrevista: Bastidores”, “Mulheres: porque será que elas…?”, “Viver não dói” e o best-seller “A Arte de ser Leve”.

Duas mineiras. Duas comunicadoras. Duas mulheres fortes e batalhadoras. Duas histórias muito diferentes mas que, por ironia do destino, se cruzam e fazem suas narradoras passarem de simples admiradoras do trabalho uma da outra a boas amigas e confidentes.

Você ri, chora, se emociona, fica tenso, fica triste, logo fica alegre de novo, quer reler e, em cada virada de página, quer gritar de alegria por tantas coisas em comum entre elas e você.

O primeiro motivo que me encantou na proposta do livro é que tive uma experiência bem parecida com a das autoras: depois de 15 anos sem ver uma amiga de infância, reencontrei-a e nossa amizade foi se fortalecendo através de e-mails quilométricos.

A cada interação, a gente falava cada uma da sua dor e, ao mesmo tempo, era a ouvinte da dor da outra. Estávamos em momentos diferentes, mas nossa caminhada se cruzou novamente – e sou grata à vida por isso! Assim, fomos percebendo muito mais coisas em comum do que simplesmente termos sido vizinhas quando crianças.

As conversas quase infinitas dos e-mails iam solidificando o carinho, o respeito e a admiração recíprocos. Hoje somos mais que amigas, mais que irmãs.

Então, você pode imaginar que encontrar um livro que retrata a troca de e-mails entre duas amigas que se encontraram pelos caminhos da vida já me ganhou de cara. Mas não foi apenas isso.

Elas retratam o dia a dia, e parece que estão resumindo um dia meu, ou seu!

“Mas elas não tem a sua idade, Carol! Tá maluca?” Peraí: Idade? Besteira. Isso, aqui, não importa. 

O que fica muito claro nas páginas do livro é que elas são duas pessoas que assumem seus medos, suas inseguranças e, ao mesmo tempo, mostram como dar a volta por cima, com bom humor e resistência para encarar as intempéries dos nossos dias.

Uma mãe recém-viúva e uma mulher bem-sucedida, porém sem filhos. O que elas têm em comum? Vontade de viver.

Então, além dos sorrisos, choros e sentimentos múltiplos que escorrem por essas páginas, há também uma transbordante vontade de viver. Tudo isso, inconscientemente ou não, é contagiante.

Não, não é um livro de autoajuda. Muito pelo contrário. É uma obra-prima daquelas que não se definem com frases chavões. Você deve senti-la.

Não vou dar “spoilers”, mas queria te incentivar muito a ler este livro. Não é pra mulher. É pro ser humano. Para aquele que chegou num estágio de consciência (tendo trinta anos, ou menos, ou mais) de que ser humano é ser alguém que erra, acerta… mas continua tentando.

Esse livro me fez querer continuar tentando viver. Viver melhor comigo mesma, com meus conflitos, com meus defeitos, com minhas qualidades, com meus medos, com minhas certezas, com meus fracassos e com minhas vitórias. Me fez ser grata à vida por tantas coisas que eu já vivi, por tantos caminhos que percorri, e por tantos presentes que a vida mesmo me deu.

Se eu, algum dia, pudesse ir a alguma palestra dessas escritoras (que juntas divulgam o livro, recém-lançado) e tivesse a sorte de falar com elas, eu só gostaria de dizer:

Obrigada, Cris e Leila, por me mostrarem o espelho e me ensinarem que isso pode ser bom.
Obrigada por demonstrarem força e resiliência para enfrentar as dores que a vida se encarregou de dar a cada uma de vocês. Assim, vocês reforçam que também posso suportar as minhas dores.
Obrigada por me dizerem que não sou a única que sinceramente quer e deseja uma amizade genuína, simples e que me complete. E que isso existe, sim, e faz bem. E que não é coisa de outro mundo, é pra gente como vocês e eu.
Obrigada pelas palavras implícitas de ânimo e força. Obrigada por dizerem o ponto de vista de vocês sem medo dos “politicamente corretos”. Obrigada por essa riqueza em forma de livro, coisa que, no meu ponto de vista, vale mais que ouro”.

 

Título: Que ninguém nos ouça
Autoras: Leila Ferreira e Cris Guerra
Editora: Planeta
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