Sempre que ouvia falar do Japão, desde os tempos em que nem imaginava desembarcar por aqui, algumas imagens me vinham à cabeça. Uma delas era a das flores de cerejeira (sakuras).

Aqueles arcos bonitos de flores sempre me encantaram. Muito bem. Até aí, qualquer um pode ver beleza neles. O que eu não tinha ideia era da importância do florescer das cerejeiras no Japão.

Existe toda uma simbologia ancestral nesse fenômeno. O evento é um símbolo da renovação: para os jovens que alcançaram a maioridade, para as crianças quando iniciam o ano letivo, para a plantação de arroz e até mesmo para o início do ano fiscal.

A contemplação das flores (hanami) é um privilégio, já que nela estão contidas a beleza da paisagem e toda a tradição que o costume carrega.

Mas, se por um lado, se na primavera o Japão é presenteado com a beleza das flores das cerejeiras, é também nessa época que se manifesta um dos problemas que mais incomoda quem vive no país: o kafunsho.

A alergia ao pólen, também chamada de polinose ou febre do feno, afeta grande parte da população. Embora a polinização seja necessária, o transporte do pólen pelo vento facilita a manifestação de reações alérgicas em pessoas de todas as idades.

O pólen é menor que uma cabeça de alfinete e, ao ser transportado pelo ar, entra em contato com nossas mucosas e desencadeia processos irritativos.

O interessante, entretanto, é que mesmo entre espirros e dores de cabeça, o japonês celebra a chegada da primavera. E consegue mesclar o incômodo com suspiros de contemplação.

Como aqui as estações do ano são bem definidas, cada uma delas tem sua magia e é desfrutada.

Tenho aprendido muito por aqui.

É lindo ver a gratidão das pessoas por “mais uma primavera”.