A partir do momento em que você decide investir num fundo de investimento, a rentabilidade do seu dinheiro briga com duas coisas:

– custos da instituição financeira;

– imposto de renda cobrado pelo governo federal.

É razoável pensar que você precisa pagar pelos custos que a instituição tem por investir seu dinheiro. Fundos de investimento têm equipes de profissionais teoricamente habilitados a fazer a melhor gestão do seu dinheiro, a fim de que ele só faça crescer ao longo do tempo.

Uma taxa de administração que não seja abusiva merece, portanto, ser cobrada, já que ninguém trabalha de graça. O que não dá pra admitir é uma taxa alta, que o faça perder grande parte do patrimônio para o banco, como já vimos.

Já o imposto de renda é bem menos defensável, porque você pode pensar que o governo recebe parte do seu lucro mesmo que ele não tenha feito nada para isso. Aliás, você já pagou imposto ao receber o salário, e ainda vai pagar mais imposto sobre a renda que parte desse salário gerou ao ser investido. Pontos de vista à parte, o nome não seria “imposto” se fosse algo voluntário, não é mesmo?

A grande sacanagem é que esse imposto é cobrado durante o tempo de aplicação, e não apenas no final, quando você resgata o dinheiro.

Isso se chama come-cotas, e acontece com a grande maioria dos fundos de investimento no último dia útil dos meses de maio e novembro.

A cada semestre o governo retira 15% (ou 20%) do lucro gerado pelo dinheiro aplicado.

É uma antecipação de imposto: o governo recebe antes, todo semestre, o imposto sobre a renda do seu dinheiro que está investido e que, portanto, ainda não lhe chegou às mãos.

É como se você marcasse a data do casamento antes de ter uma noiva.

É como se agendasse a revisão do seu carro sem nem ter veículo.

É como se você entrasse na faculdade sem nem ter passado pelo Ensino Médio.

É o famoso “botar o carro na frente dos bois”.

O que o governo retira é o mínimo que você vai pagar de imposto: 15% no caso de fundos de tributação de longo prazo e 20% no caso de fundos com tributação de curto prazo.

E você só paga o imposto relativo a um determinado semestre. No semestre seguinte, o passado não importa: o imposto é sempre relativo ao momento presente.

Se é assim, você pode pensar que é melhor pagar imposto antes do vencimento, porque, quando resgatar o dinheiro, vai pagar um imposto pequeno, relativo apenas ao último período – em vez de pagar um imposto gigante sobre o ganho dos vários anos em que seu dinheiro ficou aplicado.

Certo?

Errado, caro Watson!

AHHH, OS JUROS COMPOSTOS…

Você já aprendeu o básico para começar seus investimentos e viu a grande diferença entre juros simples e juros compostos.

Enquanto os juros simples fazem seu dinheiro crescer numa reta linear, os juros compostos dão ao seu dinheiro um comportamento exponencial, aumentando a diferença no resultado final de forma inalcançável.

Imagine o juro composto como um tsunami: ele carrega consigo tudo que está a sua frente. Melhor dizendo, ele dá força para que todo o valor que está investido ajude a formar a curva exponencial.

Agora imagine o juro composto como uma bola de neve: quanto mais roda, maior vai ficando, porque vai trazendo consigo cada vez mais neve.

O juro composto tem a cobertura extensa do tsunami com a velocidade crescente da bola de neve. Só que uma bola de neve que rola para cima. Cada vez mais para cima e cada vez mais rápida.

Agora me responda: o que acontece se colocamos um obstáculo grande na frente desse movimento? O tsunami pode quebrá-lo e continuar seu trajeto, mas também vai perder um pouco de sua força. A bola de neve vai certamente ter a velocidade diminuída. Ela pode recuperar a mesma velocidade e até adquirir outra mais rápida, mas vai levar um bom tempo para essa retomada acontecer.

Descontar qualquer coisa durante o crescimento dos juros compostos causa o mesmo efeito. É como se eles fossem tomando uma rasteira a cada semestre, ficando desequilibrados e levando um tempo para recuperar seu valor em pleno movimento. Esse é o efeito do come-cotas num fundo de investimento.

O gráfico abaixo nos faz visualizar com exatidão a diferença entre uma aplicação que cresce livre-leve-solta de outra que leva rasteiras ao longo do tempo:

Fui generoso e comparei um fundo de investimento que rende 100% do CDI (coisa que praticamente não existe nos grandes bancos) com o Tesouro Selic, do Tesouro Direto. O Tesouro Selic também rende perto de 100% do CDI, e foi escolhido não só por isso, mas porque não seria possível comparar resultados de um fundo multimercado, por exemplo, com um CDB ou qualquer outro título do Tesouro. Considerando a forma como se oferecem os produtos no mercado financeiro, um fundo DI e o Tesouro Selic são o que há de mais próximos para comparação.

O fundo do gráfico cobra uma taxa de administração de 1%, e o Tesouro Selic cobra taxa de 0,3%. O rendimento está em semestres, já que o come-cotas ocorre a cada 6 meses. E foram simulados 12 semestres porque o tempo de duração razoável do Tesouro Selic é de 6 anos – enquanto um fundo de investimento não tem data para acabar. (Aliás, o come-cotas existe exatamente porque o fundo não tem data de vencimento. Você pode deixar seu dinheiro lá a vida toda e o governo nunca receberia nada de imposto. Óbvio que ele não deixaria isso acontecer, não é mesmo?!)

Explicações à parte, veja que desde o começo o fundo de investimento fica em desvantagem, diferença essa que vai aumentando à medida que o tempo passa.

Enquanto a curva do Tesouro Selic vai crescendo sem amarras (ou só com a amarra do 0,3%), a curva do fundo vai ficando para baixo, porque tem taxa de administração 3 vezes maior (1%) e o come-cotas comendo solto.

No final, a descida do Tesouro Selic é por causa do imposto, que só acontece no resgate do investimento. Dá para perceber que, mesmo com a descida que o imposto provocou, o resultado é superior ao do fundo de investimento.

Agora você sabe que mais desagradável que imposto é imposto que entra no meio do caminho.