Costumamos associar “aspereza” com textura. Paredes, tecidos, superfícies ásperas em geral produzem sensações desagradáveis ao tato. E palavras ásperas, então?!

Não há como discordar que aspereza no trato é antônimo de delicadeza, gentileza, boa educação.

Nestes dias, presenciei duas cenas bem tristes. Numa delas, uma senhora ordenou que a irmã mais velha “ficasse sentada ali até ela voltar”, num tom tão áspero e autoritário que chamou a atenção das pessoas em volta. A senhorinha, na sala de espera do laboratório, obedeceu, quieta, sem olhar para os lados. Tinha o ar cansado das pessoas doentes e desesperançadas, que não ousam protestar porque já se acostumaram com a opressão.

Pior foi a filha, empurrando a cadeira de rodas da mãe e falando alto, quase gritando:

O quê? Quer comer, mãe? De novo? Você não pensa em outra coisa? Por isso está gorda desse jeito! Não tem vergonha?

E dirigindo-se a nós, que também esperávamos o elevador, continuou com voz de lixa desgastada:

Ela não parece uma bola? Qualquer dia não precisa mais de elevador, pode ir rolando pelas escadas!

Procurou cumplicidade, rindo de novo, mas ninguém a acompanhou… Olhávamos para a pobre senhora de cabeça baixa, que se encolhia diante da maldade da filha insensível. Vergonha alheia!

Fiquei imaginando essa mulher, no passado, cuidando do seu bebê, dando a papinha na boca da filhinha com tanto amor… E agora recebendo em troca toda essa carga de aspereza!

Como é possível? Onde foi parar a delicadeza, mesmo aparente, na presença de estranhos?

Dizem que 10% dos conflitos são causados pela diferença de opinião e 90% são devidos ao tom de voz errado. Claro que sempre haverá divergência nos relacionamentos. Por isso, é preciso aprender a controlar a emoção para conseguir ter o tom de voz adequado e saber lidar com a fragilidade das pessoas, especialmente as que estiverem doentes, numa dependência forçada.

Tratar os outros como gostaríamos de ser tratados é recomendação antiga, que atravessou séculos e que nunca deveria caducar.

Educação e delicadeza continuam sendo ingredientes essenciais na difícil arte da convivência.

Post original do Blog “Crônicas da Alma”.