Nem passei pela paternidade, mas virei meu avô.

Acho que para equilibrar a lerdeza e a preguiça de grande parte da minha vida, ela decidiu pegar um atalho e me condecorar com o prematuro título de ditian (avô, em japonês).

Já notaram como bebês e velhinhos orientais são bonitinhos?

O estranho é o que diabos acontece nesse meio tempo.

Eu acho que descobri. Nós, orientais, vamos de crianças a velhos sem passar pela fase adulta, só esperando o tempo para dar entrada no cartão de idoso, pegar filas preferenciais e comprar Corega.

Meu avô tinha na sala uma poltrona massageadora enorme. Ligava na tomada e tudo. Hoje tenho um massageador portátil (uma poltrona não caberia na minha sala). Ele teve seis filhos e uma sala que comportava uma poltrona massageadora. Tudo bem, o meu também liga na tomada.

Ditian tinha mais de 80 anos e dores nas costas.

Tenho trilhado seu caminho de forma pródiga e caxias – pelo menos na parte da lombar e do ciático (que, por sinal, deveria se chamar nervo asiático, já que da Ásia surgiu a maior parte das técnicas de massagem para acalmá-lo).

Passados 34 anos, posso hoje afirmar: fico mais feliz em achar o ponto certo nas costas com o coçador de bambu em forma de mãozinha do que em ir a uma festa open bar. Até porque já não tenho mais ressaca; fico de um a dois dias em coma pós-bebedeira com vontade de usar a mesma mãozinha pra arrancar meus órgãos internos.

Em um dos últimos convescotes que fiz em casa, a sensação do momento foi o massageador. Agora começo a entender o sucesso do clube do tupperware.

O tipo de figurinha autocolante que mais aprecio se chama Salompas, e nem me importo que venha tudo repetido. Será que a fase pós-cânfora é a neo-ftalina?

Dirijo com o banco do carro retinho e tenho um Honda Fit. Ok, não fica mais clichê que isso. Na verdade, poderia usar um encosto de bolinhas de madeira, mas vou esperar uns anos para desbloquear esse achievement.

Uso bucha vegetal e tenho bucha com cabo para lavar as costas. Aqui notamos que alongamento passou longe, mas a profilaxia tá em dia.

Fui num quiroprático pela primeira vez e me senti crocante. Música para meus ouvidos. Ele parecia que pisava em Ruffles com um crocs (que, por sinal, você passa a ver com outros olhos depois dos 30).

No fim das contas, tudo faz sentido. Já me sinto até pronto para aposentadoria, mas aí já seria a gota d’água. Ou, se continuar nessa tendência, só a gota mesmo.