Cadê a felicidade que devia estar ali e não estava?

Dia pesado. Estava cansada. E triste.

No Whats, deixei escapar uns mimimis meio lamentativos (“ó, céus, ó, vida”) para a D. Zê. Afinal, se colo de mãe serve pra curar todos os males, como não resolveria aquele desânimo inútil e paralisante que havia se instalado na minha segunda-feira?

De todas as possíveis frases consoladoras de mãe para a categoria desabafos, naquele momento, ela entregou-me a seguinte pedrada:

– Pense mais na sua pessoa.

– Na minha pessoa?

– Sim. Na Cíntia. Não só na mãe, na esposa, na filha, na irmã, na amiga…

Parece óbvio, não? Em quem mais eu pensaria, se não na minha pessoa? Pois o que acontece é justamente o inverso: a minha pessoa é sempre a última da fila – desde os tempos em que eu não gostava de ser a Cíntia.

Ousada, a minha mãe. Ela poderia usar um discurso mais benevolente, como o do “vai passar”. Vem quase no automático, não exige grande compadecimento. Bem melhor, bem mais fácil. Deixar no ar aquela homilia de esperança, num rastro de arco-íris salpicado de pó de estrelas.

Mas, não. Ela preferiu jogar a bomba no meu colo. Vai que é tua. Quem seria, afinal de contas, a pessoa mais interessada no meu próprio bem-estar e felicidade? De quem mais dependeriam a mudança, o recomeço, a transformação, o fim do mimimi e o início de alguma ação?

Ela sabia que aquilo era mais que suficiente para me provocar contrações cardiovasculares dignas do mais potente desfibrilador.

Mas, não contente, mamãe completou:

– Descanse mais. Precisamos ter mais apreço por nós mesmas.

Ué… Como ela sabia que o descanso é algo meio secundário na minha vida? Será que desconfia que tenho pressa de viver? Teria eu transparecido a aflição de não ter sido extremamente produtiva na última hora? Como, se nem para mim mesma assumo essas insanidades em voz alta?

Pensar na Cíntia, e não na mãe, na esposa, na filha, na irmã, na amiga. Tá. Entendi. A tarefa é mais bonita do que fácil.

Somos condicionados a nos vestir de papéis, funções e cargos que não necessariamente nos definem e, portanto, não deveriam ser tão prioritários quanto a nossa própria identidade.

Explico: antes de qualquer coisa, sou a Cíntia. Se eu não descansar e não tiver apreço por ela, como estará bem a mãe da Bel? Ou a filha da D. Zê? Ou a esposa do Igor?

Certa vez, recebi um sábio conselho: “cuide-se, para, assim, conseguir cuidar da sua bebê. Tranque-se no banheiro e chore, se necessário. Somente depois de respirar fundo e estar bem, volte para dar o aconchego que, a partir daí sim, você poderá oferecer”. Percebo agora que pensar mais na minha pessoa é simplesmente extrapolar esse conselho para a vida.

Ter apreço significa ter estima, consideração e respeito por nós mesmos. Isso envolve o reconhecimento de nossos limites. Tudo bem, se não formos super-heróis. Aquela louça pode esperar. Merecemos tomar um banho sem pressa de vez em quando. Não precisamos sentir culpa por dormir as horas necessárias para sentir-nos renovados. Pouco deve nos importar a vida perfeita dos nossos amigos no Facebook.

Quais papéis você e eu temos priorizado em detrimento da nossa própria felicidade?