Estávamos no segundo colegial. Ou terceiro. Não me lembro exatamente em que ano foi e nem como começou.

Mas resolvemos que íamos fazer um piquenique no intervalo, uma vez por semana. Sim, a sala inteira. Éramos uns 30 alunos, acho.

Entrei nessa turma no primeiro colegial, mas eles estavam juntos há muito tempo, já, desde o ginásio, e alguns desde o “prezinho”. Nunca fui a mais querida por todos – e ainda por cima era filha da professora de inglês, daí já viu… Independentemente disso, fiz amigos que considero e carrego no coração até hoje.

Tinha gente muito boa na minha classe. Em tudo que você possa imaginar. Os nerds. Os bagunceiros. Os esportistas. As luluzinhas. As que curtiam jazz. As do handebol. Os pagodeiros. Os do rock. E, juntos, começamos a fazer piqueniques no recreio. No começo, algumas pessoas não curtiram a ideia, mas, depois de um tempo, até os professores participavam!

Cada um levava uma coisa. Tinha pão, frios, leite, sucos. E dava tempo de preparar os lanches, esquentar o leite, comer, limpar tudo e voltar para a sala em 20 minutos – o tempo do intervalo. Era a alegria da nossa semana.

Estávamos exercitando, talvez sem querer e sem pensar, uma vida em sociedade e uma vida em comum, desde cedo.

Dividíamos tarefas, escolhíamos por eleição quem ia cuidar do quê, não nos importávamos em compartilhar o lanche com aqueles que, naquela semana, não tinham dinheiro pra ajudar na vaquinha.

Ao entrarmos na escola, com 2 ou 3 anos, já aprendemos que cada um é responsável pelo seu lanchinho. De vez em quando, se tivesse alguma festividade na classe, o lanche era compartilhado mas, geralmente, cada um levava o seu. E nós, ali, com 15 ou 16 anos, queríamos, inconscientemente, quebrar essa regra aí.

A cantina estava ficando cara e não dava pra comprar sempre. Mas, a verdade era que a “rebeldia da adolescência” se manifestou por aí também. Porque a gente quis fazer diferente do que fazíamos desde o prezinho. Quisemos dividir o lanche. Fazer piquenique.

Recentemente, achei um álbum antigo que tinha fotos desses intervalos recheados. Mais do que relembrar essa história, agora consigo olhar para todos nós, com aquela idade, e perceber que a gente queria, mesmo, era fazer a diferença. Pegar parte daquela insatisfação inerente a todo adolescente e canalizar para algo legal, relevante.

Hoje o dinheiro pro lanche sai do nosso suor e do nosso trabalho. E possivelmente temos que pensar no lanche dos nossos pais, também.

Dos meus companheiros de piquenique no recreio, muitos estão casados, com filhos, outros com vida próspera e tudo mais: médicos, jornalistas, advogados, dentistas, etc. Estão levando, como eu, cada um a sua vida mas, tenho certeza, sendo relevantes para o meio que os cerca.

Todos nos formamos e seguimos caminhos diferentes.

Mas um piquenique na hora do intervalo fala muito mais da nossa sede em sermos melhores do que, de fato, um diploma.