Não sei do seu gênio, mas o meu é daqueles pacificadores.
Não que eu não entre em conflito, mas, como diz minha mãe “dou um boi pra não entrar em uma briga, mas uma boiada para não sair”.
Sei que, por outro lado, tem gente que adora fazer uma arruaça. Todo mundo tem um causo desses pra contar. A vizinha louca, a síndica mala, o cliente encrenqueiro.
Caso você não se enquadre nesse perfil, o mais provável é que tenha um gênio razoavelmente tranquilo e acredite na boa fé do universo antes de encarar qualquer embate social.
Porém, cada vez mais acredito que o que a gente precisa mesmo é CAUSAR.
Causar (definição by dicionário ilustrado da Daty) = fazer valer, mostrar a que veio, não deixar passar barato.
Sinto que estamos atados a uma cultura que não questiona. Que não briga pelo que quer, que não fala a verdade na cara do amiguinho com medo de se indispor. E acabamos perpetuando esse comportamento a ponto de impactar nossos direitos, nosso bom senso.
Quantas vezes toleramos as pequenas injustiças cotidianas sem fazer nada? E quão surpresos não ficamos ao ver que, ao questionar, as coisas podem ser diferentes?
Por exemplo: você liga na central de atendimento do seu banco/operadora para reclamar de um aumento abusivo num serviço. Aí, para não perderem sua fidelidade, te dão um desconto na anuidade ou te migram para aquele-plano-exclusivo-que-não-tem-no-site.
Opa, e se eu simplesmente não tivesse causado?
Ok, reclamei, fui ouvida, reverti meu incômodo. Podia me sentir melhor ou privilegiada por isso, mas logo penso nas várias outras pessoas que se mantêm permissivas a esse tipo de situação. E continuam prejudicadas, só porque não causaram.
Quer dizer que eu tenho que reclamar para fazer valer? Sim, infelizmente sim.
Quer dizer que reclamar vai resolver todos os meus problemas? Não, infelizmente não.
Mas não questionar é que DEFINITIVAMENTE não me trará resolução nenhuma.
Quando esse tipo de coisa acontece, penso no quão trouxa eu fui todas as outras vezes em que simplesmente me resignei com as coisas. Com os aumentos abusivos, com a forma indecente de que fui tratada. Até com a comida do restaurante que veio totalmente diferente da foto que estava no cardápio.
Por isso, defendo a bandeira que sim, temos que causar, mostrar a que viemos. Começa no nosso dia a dia, nas relações de consumo com as quais não concordamos. Com as relações sociais que não nos dão prazer.
Não estou te incentivando a arranjar briga à toa, veja bem. CAUSAR não é defender (ou pior, impor) sua opinião a qualquer custo sobre as outras pessoas. Isso é ser idiota passar por cima do direito do outro, é destruir o bom senso e a empatia.
No lugar, e se atuássemos mais sobre as pequenas coisas que nos incomodam, os pequenos abusos morais, financeiros ou afetivos a que nos sujeitamos?
Então, gente, bora causar! Talvez precisemos fazer mais arruaça mesmo. Encarnar a vizinha xiliquenta e botar nossos direitos e vontades para valer. Por que não?
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