Como encontrar emprego fora do país?

Talvez essa seja uma das perguntas que as pessoas mais me fazem desde que arrumei as malas e saí do Brasil. Viver e trabalhar fora não é só um sonho meu, mas de muita gente conhecida e desconhecida…

Já vou começar desmistificando de uma vez: não tem fórmula mágica. Talvez até tenha, vai. Mas inclui poucos ingredientes.

É uma pitada bem grande de sorte, colheradas de estratégia, xícaras de paciência e dedicação a gosto.

Quando decidi viver em Malta, confesso, fui bem aventureira. Vim com a cara e a coragem (mas com muito currículo impresso na mão). No meu caso ficou mais fácil arranjar um bico por ter dupla cidadania, o que me permite morar e trabalhar em qualquer país da União Europeia. Mas se você não tem, muita calma nessa hora. Isso não te impede de conseguir um trabalho incrível, e eu vou te contar como!

Pra mim, começou de um jeito clássico: trabalhando em restaurante. Doze horas por dia em pé, uma miséria por hora, fim de semana e feriado sem folga, essas coisas. Restaurantes, bares e hotéis são os maiores empregadores pra quem deseja começar a trabalhar fora do país, seja durante meio período ou integralmente. A razão de achar tantas oportunidades em aberto é muito simples: todos sabemos que é temporário. Raramente você vai encontrar alguém que queira continuar nesse ritmo intenso de trabalho por escolha própria, principalmente em épocas de alta temporada.

Mas vamos ao que interessa. Os tópicos a seguir são simples e valem tanto pra quem tem passaporte europeu como pra quem não tem. Prontos pras dicas?

06 passos práticos para arranjar emprego fora do país

1. SPEAK ENGLISH

If you don’t, já fica mais complicado. É a velha história de sempre, que soa como adulto dando sermão em pré-adolescente pra algumas pessoas: o inglês é super importante. Digamos que é crucial. Onde moro, o inglês é mais falado que o maltês, a língua local. Dominar o inglês é o primeiro passo pra você se jogar por aí. Em tempos de smartphone, fica muito mais fácil aprender e praticar o idioma. Pra quem não quer fazer um curso presencial, por exemplo, o Duolingo é uma ótima sugestão, uma vez que você pode até controlar o ritmo do seu aprendizado. E se você fala espanhol, francês, mandarim ou sueco, maravilha! Outros idiomas também podem abrir várias portas.

2. VIRE O GOOGLE DO AVESSO

Onde você quer trabalhar? Quer continuar na sua área ou quer mudar completamente? No meu caso, morar fora era prioridade (deixemos claro que é possível trabalhar remotamente pra uma empresa que fica no exterior). Então, procurei qual era a indústria que tinha mais força no país onde escolhi morar. Em Malta, um emprego na área de iGaming é um sonho de consumo. Eu consegui a minha vaga em uma dessas empresas apenas três semanas depois de pisar na ilha. O que ajudou? Conhecer o lugar onde eu queria trabalhar. Pesquisei bastante, li a respeito, entrei no site das marcas concorrentes pra entender como funcionavam e sabia na ponta da língua os valores nos quais a empresa acreditava.

3. CURRÍCULO DO PODER

O nosso lema é ousadia e alegria. Não tô falando pra você sair sambando na entrevista, é claro, mas exaltar as suas melhores qualidades e todas as experiências anteriores é uma arma poderosa. Certifique-se de que seu currículo esteja sempre atualizado e crie uma versão traduzida para o inglês também. Atenção, pessoal de humanas: sabemos que os currículos incrementados com arte são uma gracinha, mas se você não estiver focado em uma área criativa, esqueça as firulas. A maioria dos recrutadores não gosta de excesso de informação, e isso pode desviar a atenção para os detalhes importantes. Ressalte as principais tarefas que desempenhou em cada função e não se esqueça de adicionar cursos extras. Pra vocês terem uma ideia, no meu até coloquei as aulas de teatro, artes visuais e música que cursei durante anos quando era mais nova.

4. COVER LETTER PRA CHAMAR A ATENÇÃO

Demorou um pouco até eu entender o conceito da cover letter. É algo bem popular na Europa. Na verdade, o objetivo é simples: escrever uma carta para o seu futuro chefe (ou para o responsável pelo recrutamento da vaga no setor de recursos humanos) com o intuito de destacar as suas melhores qualidades. A cover letter é enviada junto com o currículo quando você se inscreve para uma posição e funciona mais ou menos como um processo de convencimento. Por qual motivo devem te chamar pra uma entrevista? Por que você é o candidato ideal para preencher a vaga? Em quais requisitos você se encaixa e como pretende trabalhar para atingir os objetivos da empresa caso seja contratado? Responder a essas perguntas serve como base pra começar. Caso seja a primeira vez que você escreve uma, procure em qualquer site de busca alguns modelos pra ajudar.

5. ARRASE NO LINKEDIN

Se me dissessem, há algum tempo atrás, que o LinkedIn era uma rede social poderosa e bombada pra conseguir um emprego, jamais acreditaria. Então, se você ainda não tem uma conta por lá, corra e abra agora mesmo, porque é verdade! A minha dica é construir o seu perfil todo em inglês, assim a maioria das pessoas vai conseguir te encontrar. Funciona como um portfólio profissional, que é bem mais abrangente do que um currículo. Você pode anexar imagens, links e várias outras coisas que se associam aos seus empregos anteriores. Como jornalista, por exemplo, adicionei ao meu LinkedIn várias matérias que escrevi, reportagens com as quais colaborei e alguns eventos que cobri como repórter.

Nesse tópico, quero contar uma história muito legal pra te inspirar. Um dos meus colegas de trabalho é brasileiro. Ele não tem dupla cidadania e conseguiu a vaga aqui porque um recrutador o encontrou por meio dessa rede de profissionais. A empresa providenciou para ele o visto de trabalho e, após um tempo, ele finalmente se mudou pra cá. Daqui a alguns meses, vai ser transferido para a sede que fica na Suécia. Quem foi que disse mesmo que precisa de passaporte europeu pra arrumar um emprego fora?

6. SEJA CONFIANTE NA ENTREVISTA

Eu sei que às vezes dá vontade de ir ao banheiro de tanto nervoso antes da entrevista. Já fui a muitas entrevistas e sempre falho miseravelmente quando tento controlar a minha ansiedade. No entanto, quando tive a minha primeira entrevista em inglês, percebi que ser espontânea era uma ótima saída. Na época, o meu inglês não era top de linha, mas consegui responder a todas as perguntas. O que eu não consegui fazer foi deixar de me mexer sem parar na poltrona cheia de almofadas. Como sou meio maluca, soltei, em inglês mesmo: “me desculpem, é que estou muito animada com essa entrevista pois sempre quis muito trabalhar aqui”. A chefe do departamento me olhou por dois segundos e esboçou um sorriso dizendo que não tinha problema nenhum, já que eles gostavam de gente animada. Pois bem. Não tem melhor receita do que ser você mesmo, acreditar no seu potencial e passar confiança. O pior que pode acontecer, alguns dias depois, é receber um não, coisa que não deveria te impedir de tentar de novo. Ou o melhor pode acontecer e você receber aquele sim que vai mudar a sua vida profissional para sempre!