Amiga,

preciso te pedir perdão.

Sabe aqueles conselhos que te dei quando você só conseguia chorar? Eu não fazia ideia do que estava falando. Deixei escapar umas palavras e elas aparentemente te fizeram bem. Fiquei aliviada, porque ver você sorrir de novo era tudo que eu queria. De onde tirei tudo aquilo? X.

Foi um grito de desespero em forma de aconselhamento. Eu precisava me mostrar segura, porque você estava sem chão. O que não te contei, aquele dia, era que eu estava em queda livre, também. Sim, porque quando você se desequilibra, eu deixo de ter onde me apoiar.

Fingi estar calma. 

Me perdoe, mas não era real aquele meu semblante controlado.

Tá, eu sei que você sabia, mas o que importa é que se deixou cuidar. Permitiu que eu lhe servisse um chá mate com açúcar, o único que eu tinha, mesmo sem gostar de mate ou de açúcar. Comeu o pão de queijo, ainda que sem fome alguma, pois eu disse que precisava se alimentar.

Lamento ter tagarelado feito maluca pra tentar te distrair da dor. Perdi a conta de quantas vezes fiz – e faço – isso. Sei que nada aliviaria o peso dos seus ombros ou abreviaria o sofrimento das horas que ainda precisariam passar. Mas você sempre permitiu que eu ficasse ali, com você.

Ver você mal me retorce as entranhas.

Quero estancar suas lágrimas. Quero colocar você numa unidade de tratamento intensiva anti-frustração. Quero que doa em mim e não em você.

E tudo que consigo fazer é brigadeiro de panela.

Preciso te pedir perdão pelos confrontos, também. É horrível que alguém te obrigue a olhar no espelho quando tudo que quer é sumir do mapa. Por favor, me desculpe se fui insensível aos seus momentos e se não respeitei o timing da sua dor.

Por todas as vezes em que eu quis que você agisse como eu agiria, também espero que me perdoe. Não quero justificar dizendo que apenas tentei te ajudar.

Eu deveria apenas ter permanecido em silêncio ao seu lado e jamais – JAMAIS – podia ter dito que te avisei que ia dar merda.

E, falando em problemas, reconheço que estava errada quando briguei com você por causa daqueles desabafos ridículos que postei no Facebook e você me fez deletar. Eu não conseguia ver que você só quis me proteger. Agora entendo. Não valia a pena at all.

Ah, tem mais uma coisa péssima que preciso confessar: já dormi durante nossas conversas. Perdão. É que sua voz é tão amigável que me dá segurança… Tá bom, não colou. Você sabe que eu te amo mesmo assim.

Ainda que haja vômito ou que nossas TPM estejam alinhadas, você é quem canta a canção do meu coração quando esqueço a letra. Aliás, me perdoe o esquecimento constante dos últimos tempos. E também se não tenho tido forças para cantar a sua para você, ultimamente…

Eu sempre sonhei com uma amizade como a nossa.

Já tinha desistido de encontrar uma amiga tão estranha como eu, quando você chegou.

Aquela sequência de “eu também!” da nossa primeira conversa marcou minha vida.

Depois, quando vimos aquele show do Lenine juntas – e tantos outros filmes, DVDs e seriados abraçadas ao rolo de papel higiênico, porque os lenços tinham acabado – soube que era pra sempre.

Amizade é pra isso, não é mesmo? Pra ficar.

Então, amiga, sinto muito, mas eu nunca pretendo ir embora.