Desde que eu me mudei de país, há quase dois anos, virei uma pessoa muito nostálgica. Não posso ver fotos antigas que, pronto, capaz de começar um chororô. E olha que nem estou dizendo que tenho lembranças tristes, muito pelo contrário! A maioria delas é feliz ou engraçada. Muita história pra contar. Não tem muito segredo, afinal: o tempo passa e as memórias ficam. E novas surgirão. Daí tem aqueles clichês:
“Mas, nossa, o dia passou rápido, né?”
“Essa semana voou!”
“Olha, já estamos em fevereiro. Daqui a pouco tem Carnaval, e Páscoa, e depois Dia das Mães…”
Juro que já vi post de ovo de chocolate no Instagram.
Gente, calma, mal superamos janeiro.
Ando com essa ideia: o que as pessoas fariam se existisse uma máquina do tempo que o controlasse?
Será que desaceleraríamos nosso ritmo de vida? Traríamos alguém de volta? Reviveríamos algum momento inesquecível? Voltaríamos milhões de vezes para o momento em que quase arremessamos o despertador longe pra tirar mais 5 minutinhos de soneca?
Sinto saudades de quando eu podia fazer mais coisas com o tempo que me era dado. Na época que eu era jovem – deixo claro que ainda sou, ok? – dava conta de acordar antes das seis da manhã e ir pra faculdade. De lá, ia almoçar e depois corria direto pro trabalho, chegando em casa quase às oito da noite. De São Caetano do Sul até a Barra Funda no transporte público – o que era uma aventura de vez em quando (principalmente se chovia).
Então, quando finalmente chegava o fim de semana, acabada, certo? Que nada! Sexta-sábado-domingo fora de casa durante o dia e à noite. Saía muito com amigos, comparecia a típicos churrascos sem carne à tarde e – se voltava pra casa – tomava banho, trocava de roupa e já vazava de novo pra balada. Lembro de uma vez que passamos na padaria pra tomar café da manhã. E de inúmeras outras que paramos no Drive Thru do McDonald’s pra comer um número com batata grande (também conhecido como espanta ressaca).
De todas as funções mágicas que uma máquina do tempo nos teria, voltar e viver toda essa fase dos 20 e poucos anos seria, definitivamente, a minha escolha. E por que? Bom, primeiro porque morro de saudades.
De ir para a casa da minha avó depois da faculdade e encontrar aquela mesa incrível, toda montada, mesmo que fosse para um simples almoço só de nós duas. Tinha aquela panela de arroz que cheirava a alho, o vapor do feijão quentinho que tinha acabado de sair, o bife que ela fritava com bastante cebola. E, depois, sempre sobrava aquela meia hora na balança do quintal, onde ficávamos batendo papo sobre a vida. Sobre a novela. Sobre a bagunça que meu avô tinha deixado no dia anterior e sobre a mania dele de comprar packs de detergente a cada ida ao supermercado.
Sinto saudade de quando fui ao rodeio de Barretos com meus melhores amigos pela primeira vez – uma das únicas em que fiquei chocada com a modernidade da minha mãe: “Ô, mãe, posso viajar com meus três amigos homens pra uma cidade que fica a mais de 400 km de São Paulo?”. “Pode, ué”. Foi uma das melhores da minha vida.
Saudade também das pessoas que o tempo levou pra longe ou que se foram. Da infância, quando eu brincava na rua. Comia pastel de feira na volta da escola. Ia pro acampamento no interior durante as férias de verão.
Máquina do tempo ainda não tem. Mas, pelo menos, de certa forma, é possível viver tudo isso de novo. Lembranças são parte do que somos e do que vamos nos tornar.
Que o tempo passe bem devargarzinho, suave como o vento, quando estivermos (re)vivendo algo incrível.
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