Pra início de conversa, separei mesmo o verbo transitivo direto do objeto direto com uma baita vírgula intrometida. Licença poética.
É que parafraseei a música do Jota Quest, e quis usar a vírgula para enfatizar o ritmo da música. Se você a conhece, sabe que Rogério Flausino canta assim: “vivemos esperando – PAUSA – dias melhores”. Como não sei expressar uma pausa musical na forma escrita, achei que a vírgula poderia dar essa ideia. Perdoem-me os professores de gramática.
É bem boa, essa música. E, vez ou outra, na vida, gostamos de cantá-la: “vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás”.
Muito me intriga quem questiona e não tolera a suposta ideia de crise de ansiedade que passa o livro “O Pequeno Príncipe”, na fala da raposa: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz”.
O ato de antecipar a felicidade, no meu ponto de vista, não é ansiedade descontrolada. Viver esperando dias melhores, é.
Nem tudo está sob nosso controle. Fato. Há dias que simplesmente não podemos tornar melhores: os que nos trazem uma enfermidade, por exemplo, seja nossa ou de algum familiar próximo. As semanas parecem se arrastar, até a chegada de uma resolução para o fim da dor: ou a cura completa, ou a morte. Nessas horas, entendo que seja preciso almejar dias melhores.
Porém, aos trinta e uns, já constatei algumas vezes que os dias difíceis chegam. E não vêm sozinhos: trazem o cansaço, o enfado e, muitas vezes, a falta de perspectiva. Descobri, também, que tais dias podem durar meses e até anos. E que, infelizmente, esses períodos não vão embora numa boa. Deixam marcas.
O que não acaba é a incerteza de cada dia. Se o dia será bom ou ruim, sei lá eu. Só não dá pra viver esperando! Tem que fazer alguma coisa. E urgente.
Sim, porque tem gente que se aproveita dessa “falta de controle” que temos sobre a vida pra viver encostado, “esperando dias melhores”.
Isso é mais do mesmo? Pode até ser. Mas, por favor, pare pra pensar. E não se acomode. O dia melhor é você e sou eu quem construímos.
Dá pra “fazer” um dia melhor quando chega uma notícia ruim? Provavelmente, não muito. Mas, e todos os outros dias? O que você fez deles? Esperou por notícias ruins? Ou continuou esperando, apenas, que fossem melhores?
Tá na hora da gente ser menos “esperançoso”, sabe?
Nesses meus trinta e uns anos, já realizei alguns sonhos. Mas tive muitas mais decepções. Não sou a hiena “Oh céus, oh vida, oh azar”, mas estou revendo agora, enquanto escrevo, a forma como levei minha vida até então. Confesso: vivi esperando dias melhores. E isso não foi nada legal quando as decepções chegaram.
Acho legal a cena do filme “A História de Nós Dois” em que a família – pai, mãe e dois filhos, ainda crianças, ou pré-adolescentes – sentam-se para o momento do jantar e, como uma tradição, dizem um ponto alto do dia, seguido de um ponto baixo. Esse exercício, no meu ponto de vista, é o de tentar escolher dias melhores.
Tenho aprendido que dias melhores não virão com as engrenagens da vida funcionando perfeitamente.
Dias melhores vêm com um pôr-do-sol fantástico que você teve a sorte de presenciar da sala do seu apartamento. Dias melhores vêm de um passarinho pousar em sua mini-varanda, e você se encantar com ele. Dias melhores vêm quando cumprimos com ética e produtividade nosso papel no trabalho. Dias melhores vêm quando conseguimos parar, de verdade, e almoçar com alguém de cuja companhia gostamos. E, mesmo que o “dia melhor” tenha durado apenas alguns minutos, nele você pôde sorrir.
Sim, dias melhores vêm. Precisamos escolhê-los. Todos os dias. “…antes que venham os maus dias e neles não exista mais prazer”. Palavras do sábio Rei Salomão.
Para simplificar, de vez: “carpe diem”.
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