Quando minha irmã me emprestou o livro Quando eu parti (Record, 2016), da jornalista norte-americana Gayle Forman, não botei fé. Achei que fosse um daqueles livros de autoajuda que detesto. Sorte que não era. Devorei suas 308 páginas em dois dias e, surpresa!, gostei do que li.

Conhecida autora de literatura juvenil, Gayle escreveu Se eu ficar, que ganhou a telona em 2014 com a história da musicista Mia, dividida entre dedicar-se à carreira na consagrada escola Julliard e seu amor por Adam. Até que sofre um grave acidente de carro, perde a família e quase morre. Em coma, ela reflete sobre sua vida.

Quando eu parti também tem um tom melodramático, mas não é uma história para adolescentes.

É para mulheres adultas, mães equilibristas que trabalham, têm filhos e ralam muito para manter a vida familiar nos trilhos. Tanto que chegam a esquecer de si próprias e até da saúde.

(ATENÇÃO: este texto contém spoilers. Pare aqui se não quiser saber mais sobre a história do livro.)

Explico: a protagonista Maribeth, jornalista, casada e mãe de um casal de gêmeos de 4 anos, tem um infarto aos 45 anos e nem percebe.

Como assim? Pois é, ela acha que está com refluxo por causa da comida chinesa do almoço. Está sempre tão ocupada (porque as tarefas vêm invariavelmente em primeiro lugar), que leva um dia para ir ao hospital, de onde só sai após uma cirurgia cardíaca de peito aberto, após uma complicação durante a angioplastia.

É de se esperar que a vida de Maribeth mude após essa experiência, certo? Mais ou menos.

Quando volta para casa, o marido, a mãe (convidada a ajudar) e os filhos continuam exigindo dela o mesmo nível de atividade e atenção. Some-se a isso a dificuldade da protagonista em pedir ajuda e está traçado o cenário para o caldo entornar de vez.

Após alguns dias e antes que tenha outro ataque cardíaco, a personagem deixa um bilhete para a família e vai embora.

Quem nunca teve vontade de fazer isso, pelo menos uma vez na vida, que atire a primeira pedra.

Verdade que a partida de Maribeth teve um ingrediente a mais. Adotada, ela sai em busca da mãe biológica para entender se foi dela que herdou o quadro cardíaco.

Mas volto a perguntar: quem nunca se sentiu oprimida pela rotina, pelas tarefas, pela falta de tempo e teve vontade de partir?

Partir para poder voltar, como a personagem do livro, que depois de quase dois meses se sentiu renovada, pronta para reassumir seu papel junto à família. Talvez não exatamente nas mesmas bases, já que durante sua ausência o marido se virou bem sem ela, assumindo muitas das tarefas antes exclusivas da mulher.

Claro que ninguém precisa (ou quer) ter um infarto para mudar a vida. Antes que isso aconteça é bom parar e refletir: 

– Estou feliz com minha vida?

– O que posso fazer para melhorá-la?

– Posso dividir melhor as tarefas que hoje assumo sozinha?

– Dedico-me a atividades só para mim?

– Faço coisas que me dão prazer?

– Como anda a minha saúde?

Afinal, prevenir é sempre melhor do que remediar. E, mesmo não sendo mais adolescentes, sempre sonhamos com o final feliz.

Mais informações sobre o livro:

 

Título: Quando eu parti
Autora: Gayle Forman
Editora: Record
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