— Amor, vamos passar o Carnaval em Veneza?
Ele apenas sorriu, e eu nem precisei ouvir a resposta para saber que teríamos em breve mais uma experiência inesquecível na categoria “viagem dos sonhos”.
Morávamos em Barcelona e já sabíamos que o Carnaval ali era um fiasco. Por que não se organizar com antecedência para comprar passagens baratas e conhecer um dos eventos mais famosos do mundo?
Voamos de low-cost até Milão. A meia hora dali está Verona (a cidade de Romeu e Julieta que merece um texto à parte), onde passamos um dia. De lá, trem para Veneza.
Pouco mais de uma hora depois, e ali chegamos. Fim de tarde. Frio. Muvuca.
Gente de máscaras e/ou perucas por toda parte. Fantasias de verdade, famílias inteiras com roupas de época, coisa fina.
Parecíamos ter desembarcado no século XVII.
A estação estava absurdamente lotada, assim como a cidade toda. Andávamos levados pela massa, com mala e cuia, procurando o hostel.
Já era noitinha quando chegamos. Medo. Uma viela estranha, deserta, com uns tapumes ali do lado. Tocamos, ninguém atendeu. Havíamos chegado 1h mais cedo que o previsto.
Abstraímos a preocupação e fomos comer. Pizza, claro.
Voltamos, já esperando o pior. Atendeu a porta um italiano muito típico, de bigodinho. Simpático, nos levou até o quarto, que era ótimo! Limpinho, bonito, espaçoso, banheiro bom. Uuuuuuufa.
No dia seguinte, saímos cedo para explorar aquele lugar encantador: gente alegre, dia frio mas ensolaradíssimo, cidade cenográfica.
Saímos pelas vielas tentando descobrir para onde ia tanta gente. Sem exagero, nos movíamos com a massa.
Visitamos a Praça São Marcos, as pontes famosas, muitas igrejas, e então desencanamos da lista que tínhamos feito. O mais gostoso era ir se perdendo pelas vielas, descobrindo que cada uma tinha seu encanto.
Pouco a pouco, percebemos que destoávamos da multidão.
Andar à paisana em Veneza, durante o Carnaval, é quase um crime cívico. É meio constrangedor não estar de peruca, máscara ou fantasia.
Todos estavam produzidos. E não é aquela coisa amadora, não.
O povo se prepara, investe na alegoria (sim, porque alugar uma roupa de época nas lojas da cidade chega a custar 300 euros. Ir a um baile com aluguel de fantasia incluso não sai por menos de 1.000 euros!).
Pelas ruas tem de tudo: desde pessoas só de máscaras até damas, cavalheiros e pierrôs com fantasias extraordinárias que são parados por turistas para tirar fotos – e gentilmente concedem-lhes esse desejo, com direito a corteses reverências.
Então, é praticamente impossível ir para o Carnaval em Veneza e não comprar, pelo menos, uma máscara para entrar no clima.
Tudo isso para justificar as próximas fotos para você.
Sim, a porta-bandeira que vos fala e seu respectivo mestre-sala abriram alas para a palhaçada.
É o tipo de experiência que vale a pena ter pelo menos uma vez na vida.
Provamos uma infinita variedade de adereços.
Adquirimos nossas capas e máscaras de papel machê.
E, só então, nos sentimos pessoas “normais” – embora haja controvérsias.
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