Muita gente acha, quando vai ter filho, que precisa dar seu bichinho de estimação.
Uns dizem que o animal ficará com ciúme e por isso pode atacar o bebê. Outros falam que não é bom a criança ter contato com bicho por questões de higiene e porque “ele pode transmitir doenças”. Só de ouvir esses pseudoargumentos já me dá urticária.
Há 10 anos, o André nasceu. Morávamos, meu marido e eu, em um apartamento, e tínhamos a Sugar, uma gata superdócil, na época com 10 anos. Como estávamos na fila da adoção havia um ano e meio e recebemos a notícia da chegada do André assim, de supetão, não tivemos tempo de fazer a devida adaptação da gata ao quarto do bebê, como é aconselhado. E por uma razão muito simples: não tínhamos nada.
Em dois dias, ganhamos berço, carrinho, moisés e um enxoval básico. Mas não dava tempo de aclimatar a gata à chegada do bebê. O que fazer?
Nada. Chegamos com ele nos braços e deixamos que a Sugar cheirasse sua cabecinha. Deixamos a porta do quarto aberta nesse dia e em todos os outros para que ela se sentisse sempre bem-vinda. Verdade que, nos primeiros dias, era ela ouvir o choro do bebê para sair correndo. Mas aos poucos foi se acostumando. E de fugitiva passou a guardiã. Tenho fotos lindas dela na cestinha sob o carrinho, enquanto o André tomava sol só de fralda, na varanda de casa. Muito amor.
Ao contrário da crença popular, a Sugar nunca passou toxoplasmose para o André. Por falar nisso, para um gato transmitir essa doença é preciso que ele tenha comido carne crua infectada ou ingerido fezes de outro gato infectado. Para ficar doente, a pessoa tem que ingerir as fezes contaminadas do animal. Ou seja, altamente improvável.
É bom explicar porque muita gente dá ou abandona seu gato por acreditar em coisas assim.
Há muito mais benefícios na convivência entre crianças e animais do que malefícios. Elas aprendem a socializar, a cuidar de um outro ser vivo, a brincar, a dividir. É uma troca deliciosa. Que o digam os vídeos fofinhos compartilhados nas redes sociais. E o que vale para gatos vale também para cães, que são até mais brincalhões e brindam adultos e crianças com “lambidas-beijocas”.
A única coisa triste na relação entre bichos e humanos é quando eles se vão. O André chorou muito na morte da Sugar, que nos deixou aos 17 anos. Jurei que não teria mais bichos. Após um luto de seis meses, mordi a língua. Adotei não só uma, mas duas gatas: a dupla Paçoca e Pequena. Se elas se dão bem com o André? Se dormir no colo ou na cama dele é um sinal, diria que sim.
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