Controle do portão da garagem, mais uma vez, dá um certo trabalho pra funcionar.
Quando abre, enfim, a garotinha de três anos profere aquela pérola:
– Mamãe, esse portão tá que tá!
– “Tá que tá”? (Riso contido) Você sabe o que é “tá que tá”, filha?
– Não.
– “Tá que tá” é uma expressão. Quer dizer que aquele portão tá bagunceiro, tá aprontando.
– Hum. Então eu não gosto de “tá que tá”.
– Ué. Por que?
– Porque eu acho meio bobo.
O ser humano é um bicho difícil por natureza.
A convivência diária sempre é complexa, certo? Quando é com gente inteligente, então, é ainda mais desafiadora. Agora, quando é com crianças que parecem vir com chips mutantes de fábrica, como essa menininha do diálogo acima, conviver é um emaranhado de nós tão complexos quanto as bilhões de conexões e neurônios da massa cinzenta infantil em pleno desenvolvimento.
A pessoinha, então, solta a frase: “esse portão tá que tá”, empregando aquele termo que nossos pais já utilizavam para traduzir algo que não estava legal, alguma coisa que estava zombando de nós. Ou, em termos um pouco mais atuais, algo que estaria nos fazendo “bullying”. (Eu sei, existem dezenas de outras traduções para o jargão, mas vou me basear nesses para seguir o raciocínio deste artigo).’
Em tempos de crise econômica, somos tentados a pensar que o mundo “tá que tá”. Mas, infelizmente, e lamento dizer, o mundo não está que está.
O mundo é o que é!
Algumas pessoas preferem fazer um “auto-bullying”, achando que a crise é algo passageiro. Só que o mundo de ontem, de hoje e de amanhã sempre será o que sempre foi em sua essência.
Ouvimos dos nossos avós que hoje em dia “a mocidade está perdida”. Mas o fato é que essa ideia de que o mundo atual é muito diferente do que era no passado é equivocada.
O que mudou foi a velocidade da chegada das informações a nossas mentes.
E quanto mais ágil é o mundo, mais intolerantes e insatisfeitas ficam as pessoas.
Isso mudou. Mas a essência humana segue a mesma, com todas as suas características: amor, ego, ódio, carinho, raiva, inveja, paixão, etc.
Então, achar que no Brasil está tudo errado e que viver em países chamados de primeiro mundo é tudo de bom, também me parece um grande equívoco. Fico admirado que pessoas inteligentes realmente acreditem que a vida em um país como os EUA ou mesmo nos mais “evoluídos” países nórdicos (Suécia, Finlândia e Noruega), a vida realmente seja maravilhosa.
A vida deve, sim, ser diferente por lá. Mas não necessariamente melhor.
Tem coisas melhores e coisas piores. Sabe por quê? Porque a vida lá é composta por seres humanos iguaizinhos aos brasileiros. E, repito o que já disse acima sem medo de ser redundante: esses seres humanos nórdicos são, em sua essência, idênticos aos seres humanos tropicais. Possuem as mesmas qualidades e defeitos: amor, ego, ódio, carinho, raiva, inveja, paixão, etc.
A essência humana é a mesma, aqui ou no Canadá. E segue a mesma desde a idade das cavernas até hoje, passando pela Grécia Antiga, pelo Império Romano, pela Revolução Industrial.
As pessoas não “tão que tão”, elas são o que são. Hoje. Ontem. Sempre.
Se nos conscientizarmos sobre isso, talvez possamos conviver melhor conosco mesmos e, consequentemente, com os nossos próximos. E, quem sabe, consigamos finalmente construir um planeta melhor.
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