Maria, de Português. Não ‘do’ português da padaria ou da banca de embutidos da feira, não. E sim ‘da’ Língua Portuguesa, mesmo. Esposa do professor japa de Matemática. Todo mundo tinha medo dela na 7ª série, menos eu. Aliás, foi com ela que aprendi a gostar de verbos. Ela me ensinou a conjugar ‘valer’ na primeira pessoa do presente do indicativo. Com ela também aprendi o valor da crase. “Maria, de Português” – como era universalmente conhecida lá na Escola Estadual de Primeiro Grau Professora Olga Benatti – produzia umas competições de conjugação verbal que deixariam qualquer criança hoje viciada em games com a boca aberta, de tanta adrenalina. Eu, leonina que sou, ficava com a juba toda envaidecida quando ganhava um ponto positivo pelos acertos. E ganhava vários. Grande mestra, essa Maria.
Laurito, de Matemática. Sisudo. Homem de poucas palavras e caligrafia chique. Detestava bagunça na aula dele. Quando cismava classificar alguma daquelas santas alminhas como ‘espírito de porco’ (ainda que não utilizasse tal expressão), era um pega pra capar. Havia uma relação de amor e ódio entre o mestre e os alunos da 8ª série. Primeira e única vez que o vi com os olhos cheios d´água foi quando recebeu nosso convite para ser o paraninfo da formatura. A homenagem surpreendeu a todos, menos aos aprendizes daquele paciente e dedicado professor. No fundo, uma candura, esse Laurito.
Maria, de Química. Minha musa inspiradora da tabela periódica. De voz calma, quase angelical, conseguiu um sonoro e uníssono “ahhhhhhhhhhhh” do 1° colegial inteirinho ao explicar como se produzia a fuligem. Minha meta de vida era ser inteligente igual a ela. (Daí o porquê de eu resolver prestar vestibular pra Química, conforme expliquei no texto Minha primeira e melhor amiga da escola). Maria era um doce. Dona de olhos azuis clarinhos, passos delicados e caligrafia linda de morrer, era muito rigorosa nas provas – nas quais eu, claro, mandava muito bem, afinal, queria ser inteligente feito ela. Tinha lá seus 50 anos passados, já. Mas sabe aquela professora que explica com tanta beleza que você fica babando pela didática genial? Uma doçura mesmo, essa Maria.
Martín, de Filosofia. Sessentão, rostinho de tio-avô-fofo e semblante de professor de faculdade em sintonia com o “sistema”. Sinceramente, não me recordo de longos devaneios sobre Schopenhauer ou Nietzsche, embora certamente tenha havido alguma citação aos dinossauros filósofos. Martín seguia à risca o clássico compêndio Filosofando, que guardo até hoje depois de 20 e ‘lá vai pedrada’ anos em minha estante. E eis que, certa noite, Martín abre a página 352, capítulo “O Amor”. Seu discurso foi aplaudido ao fim da aula, de tão intenso e penetrante. Excelente educador, esse Martín.
Sharon, de inglês. Tenho quase certeza de que ela foi ao Woodstock. Anárquica e simpática, passou as repostas da prova final do curso da ELS de Vancouver pra sala inteira, que era basicamente composta de asiáticos, colombianos e uma certa brasileira. Ela dizia que não precisávamos saber inglês 100% corretinho, conjugadinho e que o importante era saber se comunicar. Com Sharon, aprendi a gostar do Eminem, a perder toda e qualquer vergonha de errar em outra língua e a me sentir meio que protegida naquela terra que não era minha. Uma transgressora autêntica, essa Sharon.
Maria, de Matemática. Jovem e com uma capacidade incríííííííível de controlar os 26 pequenos cidadãos da sala do 4° ano onde estuda minha primogênita. Coisa linda é ver essa professora ensinar sorrindo. Admiro pessoas que sorriem ao ensinar algo para alguém. Repertório, fração, todas essas ‘coisas’ – que não tenho a mínima ideia de como aprendi um dia – soam feito poesia aos ouvidos dos alunos de Maria. Essa professora ensina com um sorriso largo, de orelha a orelha, e uma paixão tão palpável que me faz querer ser aluna dela também. Uma fofura essa menina, a linda Maria.
Tia Sueli. Minha primeira professora da infância. Lindérrima, de olhos azuis, alta, chique. Era quase uma diva aquela mulher. Sou de uma época em que classificar uma professora como alguém da família era um hábito tão genuíno que fico meio sem entender porque hoje parece xingamento (embora eu entenda a devida valorização que se busca ao negar este singelo vocábulo). Sempre fui a primeira da fila, por motivos óbvios de minha estatura. Segurar na mão da tia Sueli e meio que ser a queridinha dela, então, era ver uma janela de oportunidades, uma ascensão ao meu lugar no mundo. É a única professora de quem tenho registro fotográfico. Minha eterna musa, essa tia Sueli.
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