Em um mundo onde o rótulo de geek ou nerd deixou de representar “alguém não atraente e socialmente inapto” – segundo o dicionário de Webster – e passou a definir “pessoas cercadas de amigos e referências culturais”, ninguém estranha que tantas atrações do mundo do entretenimento sejam focadas nesse público.
Vá ao cinema e encontrará ao menos um filme que tenha em sua raiz alguma história em quadrinhos (Vingadores/Batman), desenho de domingo (Transformers) ou série antiga (Jornada nas Estrelas). Todos líderes de bilheterias e com arrecadações na casa dos bilhões.
Mas, peraí: quadrinhos, desenhos e séries não são coisas de nerd? Como ganham tanto dinheiro e atraem multidões, se são focados apenas nesse público divergente? Pois bem…
Geek assumido que sou, casei com uma bela não-geek aficionada por MPB – como todo ponto de virada bem feito num roteiro interessante. A vida se desenrolava bem, desde então. Até que um dia ela me contou do seu passado. Tem coisa que é melhor não saber:
– Nunca vi esse tal de Star Wars, amor.
Virou minha missão de vida: mostrar a ela a beleza, a magia, a profundidade e a riqueza do mundo geek. Ela sabe o que estou fazendo quando sutilmente dou o play no Big Bang Theory, mas deixa. Até porque, faz o mesmo inception comigo: quando me dou conta, Djavan está conosco novamente.
Confesso que me apaixono a cada referência nerd – sempre corretamente aplicada – usada por ela. O auge foi uma postagem que fez no Dia de Star Wars, na minha timeline: May the 4th be with you. Assisto de camarote a transformação de alguém que não sabia diferenciar Spocks de Yodas e agora dá um “hadoken” em quem a irrita.
Foi um processo natural da vida a dois. Ela ficando mais jedi e eu mais bossa nova.
Tudo começou, despretensiosamente, com um convite para o cinema:
– Vamos assistir Monstros S.A.?
– Hein? Que filme é esse?
– Desenho. Em 3D.
– Desenho, Igor?! DESENHO?!E o diálogo seguiu com uma infinidade de argumentos e satirizações da não convertida. “Confia em mim, vai ser legal!” – disse eu, sacando de uma vez só todos os anos de créditos adquiridos através de boas sugestões de filmes.
Deu certo. Antes de acabar a pipoca, ela já se derretia. Dessa forma, o encanto com a Pixar e seus desenhos tridimensionais começou. Desde então, não preciso nem falar o nome do filme quando a convido. E, de alguma forma, talvez genética, já transmitimos tal paixonite à nossa filha, que não deixa a semana passar sem um “quero ver Nemo”.
E assim as bilheterias se enchem: com a descoberta de que ser nerd é extremamente divertido.
Tenho a teoria de que essa “nerdificação” do mundo começou quando alguém, provavelmente um inapto social, decidiu que não fazia sentido ter vergonha de folhear X-Men, assistir ThunderCats e ler Senhor dos Anéis. Ao contrário, decidiu vencer sua inaptidão e contar ao mundo que, escondido nessas referências, estava um infinito de universos interessantes.
Hoje, fazem parte da cultura do grande público histórias que povoavam apenas o imaginário de uns poucos não atraentes.
Claro que sempre existem níveis mais profundos, para os quais o mundo ainda não está preparado – Macross e Akira, estou olhando para vocês –, mas, no Netflix certo, logo terão sua chance de serem (re)conhecidos.
“Ah, eu não vejo essas coisas nerds. Prefiro algo mais sério como Walking Dead e Game of Thrones”, diz o leitor anti-nerd. Um é história em quadrinhos e o outro uma série de livros de fantasia publicada há vinte anos.
E o que diferencia um nerd de trinta e uns das pessoas ditas normais, hoje em dia? Bom, nós já gostávamos do que você gosta hoje.
Quer molhar o pé nesse universo? Minha sugestão é começar por aqui:
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