De repente, você percebe que já tem amigos em todos os estados civis existentes. Descobre, então, que você é aquele trevo central da cartela do bingo, o tiozão.
Tenho amigos aguardando o primeiro filho, outros já com o segundo filho e até os sem Netflix em casa (segundo a ANVISA, a TV aberta não é mais considerada um método contraceptivo). Enquanto isso, meus planos de ter filho vão indo pelo ralo…
Sim, eu faço trocadilhos marotos. E esse fato, somado à minha idade, me dá a licença poética de ser um tiozão.
Não confunda “tiozão” com “chato”, embora haja uma linha muito tênue, ou melhor, embora haja uma sobreposição respeitável entre os dois perfis. Não confunda também com infantilidade, porque eu não sou, tá bom? Até porque, se tiozão fosse sinônimo de chatice e infantilidade, teríamos muitos Justins Biebers na churrasqueira no domingo.
As piadas de tiozão, de tão refinadas, são grotescas. E, de tão grotescas, mostram seu requinte. É como uma dízima periódica composta, mas sem a parte matemática.
A Ordem dos Tiozões ainda existe, em pleno século XXI, porque Darwin assim o quis. O pavê não teria sido uma sobremesa tão conhecida, as peças de carne do churrasco serviriam apenas como alimento e não como um método de ocultar o sorriso amarelo, e o Raider não teria vendido tanto nos anos 90.
O tiozão não é o tiozinho do bar, o tiozinho da bala. Tem o aumentativo por um motivo: assim como o Pokemon, ele evolui. Começa com os xavecos ruins da adolescência (que não são efetivos, mas no fim das contas, o que você leva para vida é o “storytelling”), passa pela fase sem limites (em que o bom senso sai para fazer intercâmbio) e retorna mais afinado após os 30 (período em que o corpo aceita seu destino, expulsa da cabeça seus cabelos e os faz crescer nas costas).
O fato é que resolvi aceitar a fase tiozão e já adquiri meu coçador de costas em formato de mãozinha. Com o passar do tempo, acertar o ponto certo para coçar as costas se torna tão libertador quanto a samba-canção com a calça de tactel na época do colégio.
É certo que rola um certo preconceito com a figura do tiozão. No entanto, sem ele, nunca teríamos a cartela do bingo cheia.
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