Carismática, simples e adorável.

Assim fui definida por uma anja (existem anjas?), numa impactante mensagem que recebi de aniversário, no início do mês.

Desejava que eu permanecesse assim, com essas três características relativamente incomuns em parabéns convencionais, em que se desejam muitas felicidades e muitos anos de vida.

Carismática eu faço mesmo questão de tentar ser. Gosto de cativar e ser cativada. Essa é a graça da vida, no meu ponto de vista.

O adorável, já achei exagero. Acredito mais na versão de uma amiga sincera que me compara às balas de maçã verde, meio ácidas, meio azedinhas.

Mas o “simples” me impactou. Gente-do-céu. Que felicidade!

De repente, tudo se elucidou diante de meus olhos. Descobri o que quero ser. Na vida!

Genérico assim. E tremendamente específico, também.

Calma, explico.

“O que quero ser” tem a ver com o barulho que ecoa da minha existência. Com o ruído que chega às pessoas dos sons que eu emito. Com a maneira como sou percebida em minha essência.

Tenho paúra de parecer metida, por exemplo. Ou inacessível, das que se acham a última bolacha do pacote. Futilidade está também na lista das podridões que tenho pavor de refletir.

“Credo, como você é insegura”, você pode pensar.

Pelo contrário, sabia?

Tenho plena consciência de mim, dos meus predicados como pessoa e do que, de fato, sou. Acontece que a percepção do outro me afeta.

Muda o que sou? Não.

Mas incomoda até que bem.

Tem gente que nem liga pro que os outros dizem. Conhece alguém assim? Podem chamar do que for, e a pessoa tá lá, feliz da vida, nem aí pra opinião alheia. Pintando o cabelo de azul. Indo pra Europa pela 5ª vez no ano com a família em plena crise. Tirando selfie de biquíni e amando a chuva de confetes nas redes sociais. Essas pessoas curtem viver e não têm rugas. Você, que julga os coleguinhas, deve tê-las aos montes. E sua vida… tem curtido?

Quando “simples” entrou na definição de como alguém me vê, tive a confirmação de que sigo um caminho coerente com meus valores.

Tudo que acredito ser bom, na vida, é simples.

Simples é descomplicado.

Simples é claro, direto, sem mimimi.

Simples é natural, é tecido de algodão, é pé descalço na terra.

Simples é sem ostentação.

Simples é disponível, porta aberta.

Simples é o avesso da burocracia.

Simples é singular. Tem beleza espontânea.

Simples é suficiente. Nem mais, nem menos.

Ela não me chamou de linda – apesar de eu saber que sou mais espetacular e bela que modesta. A mensagem que tanto me impactou não destacava nenhum atributo físico – e sim características de minha personalidade.

Daí a profundidade da coisa.

É fácil chamar de “linda”. Complexo é enxergar o âmago do outro, seu cerne, aquele brilho que é só dele. E mais difícil que enxergar é expressar com palavras essa beleza em forma de elogio, como aquela anja sensível e gentil fez por mim, talvez até sem querer.

O profeta, cantor e compositor Lenine falou sobre simplicidade na música “É simples assim”, que uso para encerrar o texto.

Para mim, essa letra é uma permanente oração. Um remédio para a alma.

Recomendo aplicá-la nas feridas abertas sempre que necessário:

É simples assim

Lenine
Do alto da arrogância qualquer homem
Se imagina muito mais do que consegue ser
É que vendo lá de cima, ilusão que lhe domina
Diz que pode muito antes de querer
Querer não é questão, não justifica o fim
Pra quê complicação? É simples assim
Focado no seu mundo qualquer homem
Imagina muito menos do que pode ver
No escuro do seu quarto ignora o céu lá fora
E fica claro que ele não quer perceber
Viver é uma questão de início, meio e fim
Pra quê a solidão? É simples assim
É, eu ando em busca dessa tal simplicidade
É, não deve ser tão complicado assim
É, se eu acredito, é minha verdade
É simples assim
E a vida continua surpreendentemente bela
Mesmo quando nada nos sorri
E a gente ainda insiste em ter alguma confiança
Num futuro que ainda está por vir
Viver é uma paixão do início, meio ao fim
Pra quê complicação? É simples assim
É, eu ando em busca dessa tal simplicidade
É, não deve ser tão complicado assim
É, se eu acredito, é minha verdade
É simples assim