Meu pai me ensinou a perceber a beleza e a felicidade nas miudezas do dia a dia.
Lembro de quando ele inventou uma engenhoca no sítio: um comedouro suspenso para os pássaros. E abria um sorriso de orelha a orelha quando percebia que os passarinhos estavam comendo as frutas que colocava ali.
Felicidade boba, eu sei, mas bate gostoso no coração.
Aliás, se tem uma coisa boa demais para se fazer com meu pai é passear pelo sitio. Ele entra no pomar, seu território particular, e se desmancha de amores pelas frutas e verduras que plantou.
Um de seus maiores orgulhos é ver a jabuticabeira pintada de preto. “Olha que coisa mais linda”, ele diz. Eu fico feliz ao sentir aquela frutinha explodindo na boca, doce, gostosa.
Para mim, jabuticaba se come direto do pé.
Que graça pode ter comer a fruta depois de colhida e embalada?
Essa semana, meu pai me deu uma bacia, literalmente, de jabuticabas pretinhas e frescas, colhidas no sítio. Fiquei encantada. O gesto foi generoso e agradeci comovida.
Mas não falei pro meu pai que, pra mim, comer a jabuticaba desse jeito não tinha graça – apesar de elas estarem realmente bem docinhas.
Lavei tudo bem lavadinho e decidi fazer geleia.
Ficou incrível e especial porque não é qualquer geleia, mas a feita com as jabuticabas, colhidas pelo meu pai, do pé que ele plantou, no sítio que ele construiu.
É tudo isso junto, num mesmo pote.
Como não sentir uma felicidade boa ao comer um pouco dessa geleia? Miudezas do dia a dia que nos ensinam mais do que horas em frente a um livro, a um computador, dentro da sala de aula.
É a vida na sua essência. Nesse caso, em formato de jabuticabas.
Sem Comentário