“Nunca vi um menino tão risonho”. Essa é a frase que mais ouvimos desde que André se tornou parte de nossas vidas.
Era uma sexta-feira, final do dia. Meu marido recebeu o tão aguardado telefonema do Fórum de Santo Amaro, zona sul da capital paulista. “Sr. José Antonio, tem um bebê de 40 dias esperando pela sua visita”. Ele quase caiu da cadeira. Ligou para mim. Eu estava no trabalho. Choramos os dois.
Passamos o final de semana na maior expectativa, já que só poderíamos vê-lo na segunda. Fomos viajar com um casal de amigos e suas duas filhas. O assunto não poderia ser outro: o bebê, como seria a carinha dele, qual nome lhe daríamos. As únicas informações de que dispúnhamos era de que se tratava de um menino de 40 dias que estava em um lar administrado por freiras carmelitas, no bairro do Morumbi.
Na segunda, meu marido e eu só não amanhecemos no fórum, porque ele abre às 13h. Pegamos o ofício assinado pelo juiz que nos autorizava a visitá-lo e fomos correndo para lá. A freira que nos atendeu pediu que esperássemos na sala ao lado da recepção. Logo apareceu outra freira que nos conduziu ao dormitório dos bebês. Uma terceira estava lá com André no colo. Loiro, quase sem cabelo, quando abriu os olhinhos azuis e trocamos os primeiros olhares, não tivemos dúvida. Era ele. O nosso filho.
Fiquei tão emocionada que minhas mão suavam, e só não chorei muito para não molhar a roupinha dele. Com André no colo, meu marido se acercou e ficamos ali, os três, a nossa família. Após seis anos tentando ter um filho, André era o final perfeito para essa história. Ou seria o começo?
A nossa vontade era levá-lo logo para casa. Mas como não tínhamos nem fralda, nem mamadeira, nem berço, ou seja, nada, fomos obrigados a deixá-lo aos cuidados das freirinhas por mais um dia. Ah! E também tive de comunicar ao meu chefe que o bebê havia chegado. Tinha acabado de assumir um cargo de confiança em uma grande empresa e não poderia me dar ao luxo de tirar a licença-maternidade. Ele me felicitou, me deu o resto da semana de folga e disse para eu fazer horários alternativos de modo a me dividir entre meus dois novos desafios. Enquanto isso, o papai ficou em casa lavando as roupinhas e outras peças do enxoval recém-comprado.
No dia marcado, fomos buscar o André. Nunca me esquecerei. Ele estava com uma roupa azul e vermelha, com gola, sem pezinho. Eu o aninhei em meus braços para dar a primeira mamadeira, enquanto o papai coruja fazia fotos e mais fotos. Depois de um tempo que nos pareceu uma eternidade (estávamos loucos para lamber a cria), fomos para casa. Ao chegar, nos sentamos no sofá, com a nossa gatinha curiosa para ver o que havia naquele “pacotinho”, e aí, sim, choramos.
Choramos por antecipar a felicidade que André traria a nossas vidas. Choramos por todos os anos em que tentamos ter um filho. Choramos por finalmente sermos pais. Choramos, ainda, por termos sido abençoados com uma criança tão especial. Uma criança que, logo descobriríamos, era mais do que risonha. Era, e é, genuinamente feliz.
Nove anos depois, meu marido e eu só podemos agradecer pelo presente que é o nosso filho, André. Ele veio na hora e no tempo certos. Também veio da forma certa.
Hoje tenho certeza de que não faz a mínima diferença ser filho da barriga ou do coração. O importante é amar e ser amado, ter a chance de pegar um pequeno ser e ensiná-lo a ser gente, a ter valores, a respeitar os outros e, principalmente, a ser feliz.
Se pudesse resumir em uma frase a minha experiência com a adoção, diria:
“Se soubesse que era tão bom, teria adotado antes”.
Que lindo, Cris. Emocionante.