BITCOIN NÃO VALE NADA
Imagine um grupo de pessoas, daquelas que consertam defeitos de computador, coletando bits espalhados pela Internet. Depois de 1 mês, essas pessoas agrupam alguns milhares de bits numa pasta virtual e perguntam se você quer comprar.
Reticente, você lhes perguntou o que era aquilo. Bitcoin, respondeu o grupo com todo o entusiasmo.
Além de não ter entendido do que se tratava, você achou que estivesse numa conversa com loucos. Não comprou nada, virou as costas e foi embora.
BITCOIN VALE MUITO
Depois de algum tempo você conseguiu juntar uma quantia de dinheiro e decidiu aplicá-la. Como esse dinheiro não será usado no curto prazo, você quis deixá-lo num lugar seguro e que crescesse ao longo do tempo:
Outubro – valor de entrada | R$ 17.232,15 |
Novembro | R$ 17.329,58 |
Dezembro | R$ 17.427,57 |
Acompanhando os 3 primeiros meses, você ficou feliz com o desempenho da aplicação, já que o dinheiro ficava maior a cada mês.
Seu amigo Astolfo, depois que você lhe comentou dessa aplicação, revelou que, santa coincidência!, tinha conseguido juntar a mesma grana, que também aplicou, mas que o desempenho estava um pouco diferente do seu:
Outubro – valor de entrada | R$ 17.232,15 |
Novembro | R$ 26.329,59 |
Dezembro | R$ 68.508,69 |
Os R$ 17 mil tinham virado R$ 68 mil em apenas 2 meses. Em outras palavras, era como se Astolfo, por ter esperado 2 meses, pudesse ter comprado um carro pagando apenas R$ 17 mil.
Perplexo, você lhe perguntou que aplicação era aquela. Bitcoin, respondeu ele com todo o entusiasmo.
BITCOIN: UM SEM QUERER MAIS QUE SEM QUERER
Bitcoin é tão estranho quanto isso. Algo que você provavelmente não sabe de onde veio, pra que serve e o que se faz, ao mesmo tempo em que tem a sensação de que não pode ficar de fora.
Surgiu em 2008 com a intenção de ser um sistema de pagamento sem intermediários.
Num pagamento dentro do sistema financeiro tradicional nunca há apenas quem paga e quem recebe. Geralmente há outros personagens, como a Casa da Moeda, o banco de origem do dinheiro, o banco de destino do dinheiro, a empresa emissora do cartão de crédito, a empresa responsável pelo processamento do pagamento, a supervisão das autarquias federais – e os governos (municipais, estaduais e federal), que sempre pegam seu quinhão em forma de imposto. Quando se trata de pagamento internacional, então, dá pra imaginar que a supervisão e o controle têm muito mais peso.
Já o bitcoin, por definição, faz o pagamento diretamente entre as duas partes. E, como é uma moeda aceita em todo o ambiente digital, pouco importa o câmbio mesmo que a transação seja entre pessoas de países diferentes.
Percebeu a revolução em potencial que temos com as moedas digitais? É teoricamente uma moeda cunhada não na Casa da Moeda, mas pelas próprias pessoas; não há controle do Banco Central de nenhum país; não há custos que intermediários cobram para processar pagamentos; não há taxas de burocracia – e há menos imposto.
Assim como a Internet não pertence a nenhuma nação ou instituição, o bitcoin é a moeda que, por não ser de nenhum país, pode circular livremente por todos os países do mundo.
A moeda tradicional requer lastro; precisa da imposição do Banco Central para que seja aceita e usada pelas pessoas. O bitcoin não tem lastro nenhum, e seu valor recai apenas e tão somente na força de oferta e demanda que as pessoas lhe dão.
E não despreze o “poder das massas”: quando reunida, ela é totalmente capaz de fazer acontecer. Demanda maior traz preço maior e a recíproca é verdadeira. Não é à toa que em 2015, quando poucos falavam dessa febre, o bitcoin valia apenas R$ 800,00. E em 2010, quando o assunto estava praticamente restrito aos nerds da computação e valia centavos, um programador na Flórida comemorou porque conseguira comprar uma pizza pagando em bitcoin. A comemoração era porque uma pizzaria tinha aceitado trocar seus 10 mil bitcoins por uma pizza. Na cabeça dele, jantou de graça. Mas a força de oferta e demanda fez com que hoje, quase 8 anos depois disso, esses 10 mil bitcoins valham R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais).
Você acha que uma moeda precisa de lastro para ter valor? Que lastro tem o sanduíche do McDonald’s? Que lastro tem o refrigerante mais famoso do mundo? Enquanto houver humanos em massa pagando por essa dupla, Big Mac e Coca-Cola terão muito valor. Este é o verdadeiro lastro: estar espontaneamente nas graças do povo.
Não é à toa que em alguns lugares começa a haver caixa automático para sacar seus bitcoins pela moeda local; empresas mais e mais aceitam receber bitcoin por algumas compras realizadas em seus e-commerces; e mesmo a Bolsa de Valores de Chicago, a maior bolsa de derivativos do mundo, lançou no mercado a possibilidade de negociar futuros de bitcoin.
MAS…
Nem só de futuros vive o mundo. De dia-a-dia também.
Primeiro, você não pode achar que bitcoin vai crescer infinitamente como apareceu na tabela do seu amigo Astolfo. Pode crescer muito mais que isso, mas também pode desmoronar de uma hora pra outra, pegando qualquer um de surpresa. Imagine um Trump baixando a caneta e proibindo moeda digital. Pode isso, produção? Ah, este mundo…
Segundo, desejar é fácil, mas executar é complicado. Para comprar bitcoin você tem que abrir conta numa corretora exclusiva de moedas digitais. Há varias no Brasil e no mundo. Mas estamos falando de algo que está fora do sistema financeiro tradicional. Se por um lado isso soa como a conquista total da liberdade – o tão sonhado golpe ao sistema da geração pró-anarquia dos anos 70 –, por outro lado não há ninguém que lhe proteja. Você pode comprar muitos bitcoins e de repente um hacker pegá-los de si. Você pode protegê-los do hacker, e sua proteção terá sido tão bem criptografada que até você vai perder o código de proteção – e nunca mais conseguirá acessá-los. Ou ainda você pode armazená-los numa corretora e descobrir que ela, a corretora, pega seus bitcoins para produzir outros bitcoins. Numa terra sem proteção, qualquer um pode ser o inimigo.
Por isso, se você quer colocar algum dinheiro nas moedas digitais – e saiba que são mais de 100 hoje disponíveis –, além da compra numa corretora idônea, coloque o código na chamada hardware wallet, uma espécie de carteira criptografada fora do ambiente digital, para você ficar mais protegido de hackers. Guarde a senha desse código num papel, se for preciso, para nunca perder esse acesso.
E que seja um valor do qual você possa abrir mão. Um valor que, se perder, não lhe fará falta, porque nunca se sabe o que pode acontecer com algo tão novo e isento de regulação. Moeda digital deve ser tratada como qualquer outro investimento de alto risco e enorme potencial: coloque pouco; se perder, perderá pouco; se ganhar, ganhará muito.
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