Tudo bem. Todo mundo já entendeu que é o Facebook quem vai nos lembrar de datas importantes da vida.
Aquela fatia enorme do cérebro que antes usávamos para decorar aniversários, números de celular e trajetos de carro pode agora ser ocupada por informações muito mais úteis como, por exemplo… por exemplo… deixa eu pensar… bom, pouco importa.
A área está livre, aqui na cachola. Logo mais alguém inventa um app que possa ser baixado em nossas mentes para ocupar os gigabytes dessas coisas “banais”.
Confesso que nem sempre que o Face me alerta, eu obedeço sua sugestão incisiva de cumprimentar aniversariantes, só pra não me sentir tão escrava do sistema. Ou, pior: mando só aquele genérico parabéns, sem pontuação nem nada, apenas pra cumprir tabela. No máximo, seguido de um sorrisinho, pros íntimos.
LinkedIn também vive me instigando a congratular pessoas que completam anos de emprego ou que mudaram de cargo recentemente. Acho meio chato, isso. Parece que estou de olho gordo na promoção alheia. Obedeço não.
A vida é corrida. Difícil ficar mandando mensagens personalizadas e carismáticas para cada um que cumple años. Certo? Não.
Anteontem, no dia do meu 33º aniversário, o mundo quis me provar que sempre há tempo para entregar o elogio a quem ele pertence.
E que a tecnologia está aí para favorecer – e não esfriar – as relações humanas. É só querer.
Tapa na minha cara – e dos mais bem dados. Belo presente.
Uma amiga querida enviou uma mensagem pelo Face, mandou parabéns no grupo de que fazemos parte e, depois, um recadinho mais “personal”, via Whats, em áudio. Uma prima distante me arrancou litros de lágrimas com o inbox mais emocionante que recebi nos últimos tempos.
Um amigo me surpreendeu, no meio da mensagem de parabéns, dizendo que eu era uma das pessoas mais inteligentes que ele conhecia. Palavras atingem o coração, gente. Essa verdade maravilhosa que ele publicou vai ficar ecoando internamente. Azar dos que terão que conviver com esta versão mais bonita do Einstein, aqui.
Em uma dessas missivas de parabéns, descobri conceitos essenciais sobre o que eu quero ser – e parecer – na vida. Profundo assim. Outra amigona disse que em tempos de Facebook, mensagem de Whats é quase telegrama – e que, portanto, eu devia me sentir querida por ser lembrada dessa forma.
De fato, em terra de Facebook, quem tem inbox é rei. Eu me senti muito especial por todos os que fizeram questão de me demonstrar carinho por mensagens privadas, à moda “antiga”. Mas também pelos que escancararam no meu mural os melhores votos de feliz aniversário.
Mensagens são presentes em forma de texto (ou áudio).
É preciso usá-las sem moderação.
Sendo assim, sou muito grata ao Facebook por ter lembrado a tantos amigos de me felicitarem com parabéns, emotions e até uns gifs fofos.
Ah, mas não foram todos espontâneos, alguém pode dizer. Tiveram que ser lembrados pelo Facebook que 11 de janeiro era meu dia de ser a destinatária dos cumprimentos. E DA-Í? Só por que foram alertados, deixaram de ser genuínos os desejos de felicidade que recebi?
Tenho mais é que dar graças ao Face por lembrar a mim – e ao outro bilhão de usuários ativos nessa rede – os dias corretos para jogar confetes em cada perfil, nesse marzão diário de aniversariantes.
Meu discurso já foi daqueles babacas: “se não fosse a tecnologia, só os que se importam de verdade teriam se lembrado do meu aniversário”.
Anteontem, inclusive, comecei até com um reforço positivo dessa minha tese: antes mesmo do meu aniversário, pessoas queridas souberam que não estaria em casa na data e me deixaram presentes, bilhetes e abraços dos mais especiais.
Meu juiz interno ficou todo felizão: “A-há! Não disse? Quem me ama meeeesmo não precisa do Facebook. Todo dia 11 de janeiro soa uma espécie de alarme de amizade em meus afetos, que carinhosamente os alerta: Aniversário da Cíntia! Liga lá ou aparece, que ela vai ficar bem contente”.
Tá. Isso não é algo totalmente errado. Juro que, em mim, o tal despertador existe. Impossível passarem batidos os dias 04 de janeiro, 13 de fevereiro, 12 de março, 27 de abril, 20 de maio, 03 de junho, 04 de julho, 04 de agosto, 26 de setembro, 27 de outubro, 28 de novembro, 23 de dezembro, pra citar apenas um de cada mês. Aniversário de pessoas especiais. Se o Facebook explodir, continuarei me lembrando com carinho dazamiga e fazendo questão de entregar-lhes abraços e sorrisos. Inbox ou, muito melhor, in personal.
Acontece que, obviamente, meu cérebro não possui memória RAM suficiente para armazenar todas as datas importantes nas quais deveria soar o alarme da amizade.
A coitada da amiga que resolveu nascer dia 23 de dezembro é esquecida com frequência por mim, e só ganha um feliz-natal-boas-festas-putz-sorry-esqueci-de-novo! Para piorar a minha situação, a antissocial moçoila não está no Facebook. É avessa a redes sociais. Como lidar? Sendo uma amiga melhor e usando aquele espaço vago na cachola para lembrar que 23 de dezembro é dia de dar um alô pra ela, oras bolas.
Para algumas pessoas – e desconfio que cada vez mais – a muleta do Facebook não funcionará para sempre. E aí, geração do smartphone e da smart-TV?
Que tal criarmos nosso próprio sistema de smart-relationship-management?
Lembrar datas é algo com que não precisamos mais nos preocupar, já que o Face está aí para isso, certo? Como seria o mundo, então, se nos dedicássemos a criar mensagens realmente personalizadas para cada amigo? Imagine as altíssimas taxas de retorno desse CRM de amizades.
Talvez você não tenha ainda se atentado ao poder de conexão das mensagens personalizadas. É legal receber um “parabéns a você, muitas felicidades, muitos anos de vida”? Claro que sim. Mas defendo que a personalização abre um canal profundo no relacionamento humano.
Quando você customiza a mensagem para aquela pessoa, em especial, você está dizendo que se importou. Que tem uma história com ela. Que parou tudo o que estava fazendo “no automático” e dedicou exclusivamente a ela parte de seu precioso tempo.
Portanto, mais que genéricos “parabéns”, entreguemos os nossos genuínos desejos de os aniversariantes que amamos sejam profundamente felizes naquilo que se propuserem a fazer. Que voem sem medo de altura. Que se entreguem em todos os projetos que os desafiam. Que sejam inteiros nas coisas mais bizarras e que estejam cagando montes para a opinião alheia, se aquilo os alegra o coração. Que encontrem paz profunda. Que tenham colos – físicos ou virtuais – para se aconchegarem.
Mas que seja sempre hoje esta data querida.
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