Um homem de trinta e umas é um caso sério. Não chega a ser caso de polícia, nem mesmo assunto criminal. Mas merece investigação precisa. Requer que se analisem fatos, relacionem pontos, distingam pistas, observem evidências. Sim, para ninguém viver fingindo que conhece seu enganoso coração.
Um homem de trinta e umas é uma playlist de final de semana.
Toca sertanejo de fossa. Toca samba no pé. Toca funk de esquina. Toca dance da gringa. Toca brega e chega junto no forró. Dá uma de rockeiro. Toca Raul. Mas acaba num romance de bar. Ainda ontem chorei de saudade.
Um homem de trinta e umas é um filme de cinema.
Sem tapetes vermelhos. Sem papparazzis. Sem grandes investimentos. Mas com direito ao Oscar. Posa sem clichê. Contracena com a vida. Traz fala improvisada. Sabe fingir-se de morto. Dubla suas próprias crises. E ainda sobrevive no final.
Um homem de trinta e umas é aquela espécie rara. Quase em extinção. Marca chique de bijuteria. Versátil. Ora parece adolescente cheio de dúvidas. Noutra, tem juízo de senhor de família. Quanto aos perrengues dos dias, quase nada é novidade. Quanto às dores no corpo, quase tudo é ansiedade.
Um homem de trinta e umas é quem já se cansou de ser moleque.
É sujeito que atravessa diariamente a rua da sua própria solidão. Enfrenta seus limites sem poder fugir. Supera angústias da geração que o proíbe de chorar. Crescer? Sempre. Na marra. Na manha. Aprende a andar só. Apenas Deus e uns poucos amigos em seu caminho.
Um homem de trinta e tantas lutas é um homem de fato.
Do lado de fora, incompreendido. Até dizem, cadê? Não existe mais. O vento levou. Afundou na lagoa azul. P.S. Eu nunca te encontrei. Mas, ele não gosta mesmo de ser confundido por aí. Ainda mais por qualquer frustração de amor.
Um homem de trinta e muitas garras está em eterna construção.
Tensões interiores. Questões de muitas cores. Pisadas forjadas nas dores. Do lado do peito, bate um simples coração. Humano. Não é o Wolverine dos X-Men. Nem o Will de Como eu era antes de você. Não é nem a versão barateada do padre Fábio de Melo. É único. Oceano.
Um homem de trinta e tantas rimas é gente comum.
Não gosta de mimimis. Não pactua com tititis. É prático. Não tem mais idade a perder. Prefere inteirezas. Ou tudo, ou nada. Oito verdades ou oitenta remendas. Só topa aventuras se elas não desfigurarem seu caráter. Nunca subestima as tentações. Sua lei é preservar os bons princípios. Não se vende. Não se mistura. Não brinca com isso. Aprendeu que só poderá ser fiel a qualquer pessoa se, antes disso, for fiel a si mesmo.
Um homem de trinta e umas qualidades é um luxo que está fora da moda de Paris. Não é exigente. Sequer superior aos outros. Mas tem estilo. Casual. Sempre presente em todos os casos em que pode conjugar o verbo amadurecer. Sempre diferente de tudo que é padrão. E, talvez por isso, surpreendentemente único.
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