Você já sabe que a taxa de administração é a maneira como o banco ganha dinheiro sobre o que você investe. Não podemos olhar para ela como vilã, porque ela é a forma de remunerar o gestor do fundo e sua equipe. Nada mais justo que remunerar pessoas dedicadas a fazer crescer nosso dinheirinho.
O problema é quando a taxa é muito alta, ou ainda quando o fundo não tem bom desempenho, ou então quando é um fundo que requer uma gestão muito simples, não sendo necessário cobrar tanto quanto cobra.
O fundo mais simples que existe é o DI.
Geralmente é o primeiro fundo recomendado pelo gerente do banco a um cliente que começa a ter dinheiro para investir. Serve praticamente para acompanhar os juros do mercado, andando teoricamente lado a lado com a famosa taxa Selic.
Se o fundo deve acompanhar a taxa básica de juros da economia, não há complexidade nessa gestão e, portanto, sua taxa de administração deveria ser bem pequena. Pequena mesmo, coisa de 0,10% a 0,30% ao ano.
No entanto, observamos que muitas vezes as taxas chegam a ser 40 vezes mais altas, como explicamos no texto sobre a taxa de administração.
São fundos dos 5 maiores bancos que, apesar de simples gestão, cobram 1,20%, 1,80%, 2,50%… 3,90% ao ano. É como ter um trabalho bem simplório ganhando o salário da complexidade de um físico nuclear. Quem é que não queria?
A coisa fica mais grave à medida que a taxa Selic baixa. Sabe por quê?
O fundo DI acompanha a Selic. Se ela aumenta, o fundo rende mais; se ela baixa, o fundo rende menos. A taxa de administração é retirada do montante do fundo. Se o dinheiro cresceu bastante, o gestor do fundo receberá mais; se cresceu menos, os proventos dele serão menores, já que tudo é uma proporção.
Até aí, beleza – você pode pensar. Se o dele diminuiu como o meu, está tudo certo.
Mais ou menos.
O problema é que a taxa do fundo é fixa, faça chuva ou faça sol, e a proporção dela crescerá quanto menor for o resultado.
Se você retirar 1 de 10, sobram 9. Eram 10 maçãs, uma apodreceu e ainda restaram 9 para você se deliciar. É o mesmo que dizer que sobraram 90% das maçãs pra você.
Já se apodrecer 1 maçã numa cesta com duas maçãs, sobrarão apenas 50% das mesmíssimas frutas.
Nos dois casos foi retirada apenas uma maçã, mas o resultado da segunda ficou mais prejudicado simplesmente porque o todo é menor. E você terá menos pra se deliciar.
Isso porque nem falamos de quem tem uma única maçã, que está pra apodrecer…
Pegue um fundo que cobre 2,50% de taxa de administração. Se a Selic está a 45% ao ano, tirar 2,50% de 45% significa tirar pouco de muito. Mas se a Selic estiver 10 vezes menor que isso – 4,50% ao ano –, retirar 2,50% de 4,50% é fazer um estrago gigantesco.
Observe o gráfico abaixo, que mostra a taxa Selic de 20 anos atrás pra cá:
O Brasil já teve Selic de 45% ao ano, sim. Mas repare como essa taxa tende a cair ao longo da história. (Bons tempos em que se ganhava dinheiro com facilidade, hein!)
Agora vamos pegar duas épocas distintas: o ano de 2015 e um retrato de hoje, fevereiro de 2018.
Quem era vivo 3 anos atrás deve se lembrar do auge da crise. Todos os indicadores estavam ruins. Com a inflação apontando pra mais de 10% – mais que o dobro da meta –, o Banco Central teve que subir a Selic gradativamente: de 7,5% em 2012 para 14,25% em 2015.
Em seguida, com a inflação já controlada, a Selic pôde começar a arrefecer paulatinamente, até que chegamos a 2018 com taxa de 6,75% ao ano. Em resumo:
2015 | 2018 | |
Selic | 14,25% | 6,75% |
Selic over | 13,23% | 6,64% |
Por causa do cenário de crise, 2015 ofereceu grandes ganhos a quem se atrelou à Selic. Algumas aplicações ofereceram rendimento de 20% ao ano, o que significa mais que dobrar o capital investido em menos de 5 anos. Quem tinha dinheiro em plena crise sorria com todos os dentes.
Barbadas como essas não há nos dias de hoje, com juros praticamente na metade do que estavam 3 anos atrás.
Então vamos comparar os rendimentos dos fundos DI nos dois momentos e ver quanto do rendimento foi comido pela taxa de administração.
Os fundos serão os mesmos do texto já mencionado. No lugar de revelar os bancos, vamos manter a codificação na sequência de “B1P1”, significando “banco 1, produto 1”, e assim por diante. Vamos simplificar e pressupor que os fundos aplicam 100% do montante apenas em títulos da taxa Selic – a fim de dizer que seu rendimento é “Selic over” menos taxa de administração.
Em 2015, auge da crise:
A coluna “taxa de administração” traz quanto cada fundo cobra por ano. Repare que todos fazem a mesma coisa, mas cada um tem seu preço. É como encontrar o mesmo produto com preços bem diferentes em supermercados diferentes.
Em “rendimento bruto” temos quanto remunerava a Selic over naquela época. Foi quanto cresceu o dinheiro de quem estava investido desse jeito.
Em “rendimento sem taxa” temos o rendimento depois de descontada a taxa de administração, que é o que realmente importa, já que é isso que você terá no seu bolso ao sair da aplicação – sem contar o imposto de renda, claro.
E o dado que nos importa é o da última coluna. Ela revela qual foi o pedaço do rendimento comido pela taxa de administração. Se você ficou com cerca de 10% de algo que era 13%, isso significa que você ficou com cerca de 80%, tendo ido os outros 20% pra equipe de gestão do fundo.
O 2º produto, que cobra menos, ficou com apenas 10% dos rendimentos, transferindo a você 90% deles.
E assim por diante.
Agora vamos ver como se comportam esses mesmos fundos hoje, 2018. Eles têm as mesmas taxas de administração, mas veja quanto a mais elas consomem dos rendimentos com a queda da Selic:
Viu a diferença da última coluna? Com a queda dos juros o rendimento ficou menor, e o volume em dinheiro que o fundo pegou de você também foi menor. Mas, na proporção, o pedaço do que o fundo pegou ficou bem maior – transferindo a você uma proporção bem mais baixa de rendimento.
Essa diferença da mordida maior fica clara quando colocamos em gráfico:
Repare no “B3P2”. Esse fundo embolsou mais de 60% do rendimento. Você ficou com menos de 40% do bolo. O dinheiro é seu, mas o banco ficou com 60% dele… sem fazer nenhum esforço.
Esse e outros casos são tão marcantes que mais vale a pena deixar o dinheiro na Poupança – em que, ainda por cima, não se paga imposto.
Dá pra sair dessa cilada?
Ora, pois. O Tesouro Direto tem o DI a 0,30% ao ano. Outros bancos, que não os 5 maiores e mais conhecidos, oferecem produtos bem similares a taxas tão baixas quanto. Há opções de 0,20% e, veja que incrível, também há alguns com taxa zero.
Por fim, saiba que em época de juros baixos e tendência de recuperação econômica, é preciso navegar os mares da renda variável.
Sério? Isso é pra mim?
Se você entrar nela com conhecimento de causa, vai concluir que risco mesmo é deixar as maçãs apodrecendo numa única cesta.
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