Este texto não é uma apologia à pobreza. É claro que gostamos de dinheiro.
Mas será que por ele estamos dispostos a vender nossas almas?
A tal crise econômica não tá fácil pra ninguém, não é mesmo? Porém, e se um dia precisássemos escolher entre benefícios financeiros ou princípios? Qual seria ou qual tem sido nossa atitude?
Façamos um exercício: o que você faria, se…
… propusessem a você receber dinheiro por fora numa negociação?
… solicitassem sua prestação de serviços sem emissão de nota fiscal?
.. oferecessem a você um documento falsificado para pagar meia entrada em shows?
… incentivassem você a sonegar impostos de qualquer origem?
… sua declaração de renda ficasse mais atraente ao omitir alguns dados?
Escolhas fazem parte da vida. Se você nunca precisou optar, talvez algo esteja muito errado por aí. O normal é que a gente lide diariamente com dilemas éticos.
No entanto, quando nos rendemos às ilegalidades tão acessíveis do nosso sistema capitalista, o que estamos fazendo é uma permuta bem simples: obtemos vantagem e abrimos mão da cidadania, da moral e dos bons costumes. Migramos pro dark side – e não há nada de geek ou cute nisso.
Infelizmente, tem muita gente vendendo sua consciência tranquila no mercado negro. Sendo favorecido às custas de valores inegociáveis.
Negligenciando a ética.
As desculpas usadas para as pequenas corrupções diárias geralmente são associadas à inconformidade com o que é justo: o governo desvia as verbas dos lugares devidos, os impostos são abusivos, a política econômica favorece determinada casta social, e por aí vamos, com excelentes argumentos muito mais embasados que esses.
Acontece que não se faz justiça com exceções – especialmente quando NÓS somos a exceção. Sim, porque nosso tempo não vale mais que o do outro quando decidimos estacionar “só um segundinho” na vaga de deficientes. Ou vale, pra você?
Aquele troco que veio a mais no bar, você devolve? Ou aceita como compensação do universo por todas as vezes que pagou os 10% da galera que foi embora antes de você?
E se você causou um acidente de trânsito com uma freada brusca, por distração, que postura adota? Deixa que o infeliz que bateu na sua traseira arque com o prejuízo, ou contraria a lei de “quem bate atrás sempre é o culpado”, assumindo sua responsabilidade e arcando com ambos os consertos?
O que dizer de um esquema de corrupção que você flagra no trabalho? Decide se calar diante do dilema ético porque precisa do emprego? Consegue dormir com o peso de ser conivente com uma empresa fraudulenta? Ou resolve não se submeter a gestores que não têm escrúpulos, e vai buscar nova oportunidade alinhada a seus princípios?
Por quanto tempo mais você aguenta sofrer assédio moral? A que torturas emocionais você se submete por medo de denunciar um abuso de autoridade? O que impede você de se mover na direção de um emprego que não corrompa seus valores?
Será que você é melhor que o governante corrupto quando cogita ganhar em cima de alguém que lhe pediu um favor? Ou quando empresta dinheiro a um amigo e cobra os mesmos juros que o banco – ou, pior, maiores?
Quanto custa sua ética? Por que preço você tem vendido seus valores?
Que margem de lucro o faria negociar seus princípios?
Se, ao invés de usarmos nosso discurso moralista para apontar deformidades do sistema, começássemos a aplicar filtros éticos em nossas próprias decisões, talvez pelo menos a insônia pudéssemos erradicar de nosso país.
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