Esse texto não é sobre música. Mas fala do poder que ela exerce sobre mim.
Nem teria eu gabarito algum pra escrever sobre o assunto. Não toco instrumentos e não faço ideia de onde ficam o dó ré mi fá na flauta doce da minha filha de 9 anos (que já toca trechos de música clássica na aula de música da escola).
Mas eu danço.
Muito (o que não significa bem).
Em qualquer lugar: no chuveiro, no meio da Av. Paulista, no carro esperando as crianças saírem da escola.
Chacoalho todos os ossos e músculos do meu corpo e pouco (nada, na verdade) me importo se alguém vai olhar, rir, apontar, ou colocar na web feito meme. Porque o movimento do corpo é o resultado do poder que a música exerce sobre mim.
E canto.
Desafinadasssssa, no meio do supermercado, no karaokê de festa de família, dentro do metrô, parada no trânsito. Porque proferir palavras cantadas reflete o poder que a música exerce sobre mim.
Desde criança, ficava sentada admirando o aparelho de som da minha mãe. Ela ouvia de Cartola a Gênesis, e isso meio que me despertou o interesse por tudo onde o assunto “música” se encaixa.
Quando eu tinha uns 10 anos, meu saudoso pai gravou Chitãozinho e Xororó por cima de TODAS as músicas do KISS que estavam naquela fita cassete que o vizinho me deu. (E antes que a pessoas sapateiem sobre o gosto musical alheio, declaro que gosto dos caras de mulets, apesar de preferir os de rosto pintado).
Mas não foram só minhas músicas preferidas sobrepostas pelo agudo do cara do campo que esfaquearam minha alma de menina. O volume do Kiss era alto e, no lugar do volume máximo, veio um áudio tão baixo que nem médico com estetoscópio podia ouvir. Sim, gosto de música em volume alto, porque é assim que ela exerce poder sobre mim.
Tenho meus hits de verão, os dos momentos meio tristes, os de amor, os de luxúria, os que me ajudam na concentração do trabalho, os de cantar no shopping, os de cozinhar… Preciso desse poder que a música exerce sobre mim.
Porque ela me transforma em caco, em vidro, em Georgia, em garota de Ipanema, em rosa, em divina flor.
Vou pra Marrakesh, New York, Maracangaia.
Viro criança, viro gaivota que voa no céu.
Vejo cor, sinto sabor, pura sinestesia.
A música me traz a sensação do pulsar da vida.
Esse é o pleno poder que ela exerce sobre mim.
Desconfio, então, dos seres vivos que não gostam de música.
Será que vivem?
(Ah! Escrevi essas palavras ouvindo hits do The Police. Alto, bem alto. Solta o som aí também!)
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