Não gosto de mandar mensagens de felicidade e bons desejos no período das festas de fim de ano. Nunca gostei.

Pra mim, é só quando o peru acaba, os fogos cessam e a rotina recomeça que essas mensagens começam a fazer mais sentido e se tornam N-E-C-E-S-S-Á-R-I-A-S.

É nessa hora, em que a esperança e a vontade começam a se acomodar de novo, que acho importante saber que tem gente que deseja sim a sua felicidade e ainda acredita na sua capacidade de dar a volta por cima, mesmo passado o efeito do champanhe!

É só peneirar velhos hábitos, tirar a poeira de velhos desejos e tomar um gole de coragem para que o seu ano realmente comece. E ele vai ser bom!

Acredite em você.

Acredite na sua capacidade de fazer um ano bom para além das promessas vazias de ano novo!

E, para lembrar de que a chance de um ano novo ainda está aí, e de que os nossos desejos de renovação e felicidade podem acompanhar cada um de nós, segue uma pequena pérola do Drummond.

Que 2017 seja um ano verdadeiramente novo!

 

Receita de Ano Novo

por Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Texto extraído do “Jornal do Brasil”, Dezembro/1997.