Homens choram, sim.

Nem que seja em silêncio. Nas profundezas do seu coração. Vencíveis perante as grandezas da vida.

Choram quando amam de verdade e os condenam por isso. Quando os confundem com tantos outros risos. Quando não conseguem se expressar com juízo à pessoa que os tira o chão. Ou quando se enredam em qualquer improviso no mundo da contramão.

Quem afirma que homem não chora é porque nunca conheceu um de perto. Só experimentou a aparência. Só amou o traje do superman.

Não lidou com homens de carne e osso, impulso e razão. Só encontrou os falsos pelo caminho. Projetos de homens. Ratos disfarçados de heróis.

Os homens-meninos também choram, mas fazem isso por birra, por brigas, por pequenez. Os homens-adultos deitam lágrimas sem dispensarem a maturidade. Reconhecem ter medos. Muitos. Agudos. Velados. Podem até estar prontos, mas nunca serão perfeitos – ainda mais quando lidam com as expectativas e as fases de uma mulher.

As lágrimas servem para limpar seus olhares. Fazem com que enxerguem erros que cometeram. Purificam seus corações num escuro breu. Fazem com que percebam o caminho árduo sob seus pés. E contribuem para que assumam suas fraquezas quando ser forte não basta.

Homens choram por serem, às vezes, duros demais, seguros demais, entregues demais.

Um dia, os corações desses homens se cansam. Alguns vão para os bares e enchem seus copos com bebidas. Queriam mesmo é enchê-los com lágrimas. Outros vão para o colo de uma amante, mas queriam mesmo os de suas mães. Existem ainda os que preferem o abraço de Deus como lugar seguro.

Há mulheres que não suportam ver homens chorarem. Querem segurança o tempo todo. O que elas não sabem é que podem provocar seus homens a enrijecerem as próprias vidas, ajustando-se às dores, às exigências diárias. Homens que não podem chorar se tornam violentos, não aceitam que chorar é humano. Então, desumanizam-se numa violência maldita.

Homens que choram são fortes, mas não insensíveis.

São fortes, pois aprenderam sobre o tempo de chorar. Nas perdas. Nas dores. No desabrochar das flores. Nas angústias. Nas lutas. Nas realizações. Sob o sol em dias de labuta.

Eles reconhecem que a força do corpo se nutre da seiva do coração. Choram sem desistir. Choram sem olhar para trás. Choram sem se deixar vencer. Até os olhos secarem. Até um novo homem nascer. Choram sim, se isso for preciso.

Hoje, os homens estão solitários. Fragilizados. Peregrinos. Feridos. Persistentes. Não conseguem chorar por qualquer coisa. Apenas quando semeiam seus amores no mundo, como na criação de filhos, nas construções dos sonhos, nos cultivos de flores feitas de gente.

Homens choram para serem libertos do ideal masculino que inventaram por aí.

Choram, de fato, por que são homens de fato, pois apenas um homem de verdade aprendeu a chorar. Estes, certamente, são mais fortes, mais inteiros, mais humanos que quaisquer outros.