Meu relacionamento é um daqueles que começaram no colégio.

Estou com ele há mais tempo do que fiquei sozinha, na vida.

Já terminamos duas vezes.

Depois de casada, já fugi para a casa da minha mãe e lá fiquei por uma semana.

Agora, com o bebê, penso em me separar periodicamente.

E por que ainda estamos juntos?

Porque nos amamos! De verdade.

Daquele amor que não é fácil, que precisa batalhar.

Sou da noite, ele é do dia. Sou de Humanas; ele, de Exatas. Sou faladeira, ele é tímido. Nem sempre ser oposto é ruim, só exige mais dedicação.

Por outro lado, gostamos de cerveja, rock e chocotone.

Panetone, não. Cho-co-to-ne.

O fato é que estou passando por um desses períodos de me apaixonar novamente.

Não sei de onde tiraram a ideia que filho segura casamento. Por aqui, a coisa é outra. Muitas vezes nem foi culpa dele. Não fazia por mal perguntar como foi a noite com o bebê, mas isso me lembrava que ele tinha dormido oito horas enquanto eu amamentava uma hora e meia, dormia 40 minutos e amamentava de novo. Repetidamente. Por dias, semanas, meses.

Acontece que o meu estoque de paciência, agora, é todo reservado para o filho. O marido ficou sem.

Então, cá estava eu, pensando em como retomar todo aquele brilho do nosso relacionamento.

Até que fomos comprar uns pufes para tornar a sala mais segura para nosso pequeno. Em dúvida entre dois modelos, ele sentou em um sofá e deu um tapinha ao lado dele: antes de decidir, vem cá. Sentei, já meio irritada. Aí ele veio com essa: “se a gente comprar esses pufes, não vamos nos separar, tá? Ninguém compra três pufes para se separar”. Caí na risada. E assim, com pequenas doses de bom humor, ele faz com que me apaixone de novo… toda vez.

Na adolescência, vendo aquelas intermináveis horas de comédias românticas, temos a certeza que o amor tem que ser perfeito. Aí vem a vida e mostra que não é.

O amor tem que encher o coração, mesmo que for de raiva, de vez em quando. O importante é provocar, fazer reagir, até para salvar o que um dia foi bom e, hoje, anda meio vanila ou jiló.

Há algum tempo, uma amiga e eu conversávamos sobre problemas em nossos casamentos. Eu recém-casada. Ela morava junto com o moço há uns dois anos. Converse com ele, eu a animava. Mas ela argumentava que não tinha mais forças, que virava discussão, um atacando o outro e nada produtivo sairia dali.

Sabia bem o que era isso, aqui em casa era igual. Mas eu não podia aceitar. Levei meu marido pra terapia de casal e estamos juntos até hoje. Ela desistiu e os dois se separaram. Foi melhor para eles, são mais felizes hoje, com pessoas que os tiram do lugar de sempre.

O ponto é que, olhando de fora, tudo é lindo.

As pessoas acham meu relacionamento incrível, e ele é.

Mas tem seu preço: tem muita dedicação, tem muita vontade, tem muito coração e tem alma.

Pra ele, deixo o trecho de uma música querida: “Wild thing, you make my heart sing, you make everything groovy, wild thing”.