Está chegando mais uma Black Friday.

Aquela febre consumista generalizada dá sinais de que mais uma insana corrida vai começar.

Como disse um amigo, “é muita Black Friday pra pouco Thanksgiving”. Mitou.

Sinto exatamente isso: parece que o descontrole de usar o dinheiro que não tenho para comprar coisas das quais não preciso é maior que a satisfação de saber que essa data vai passar, e vou continuar tendo muito mais do que necessito para viver bem.

Este ano, prometi me controlar.

A crise tá feia, então decidi segurar a emoção e conter o siricutico: nada de comprar coisas desnecessárias.

De modo algum irei a supermercados. Aquela gente toda se agrupando para pegar as centésimas-últimas TVs de LED que o moço empolgadamente anunciou é um perigo. “Tá pela metade do dobro, senhora! E só tem mais 5, minha gente. Quem não vier agora, fica sem”.

E já pensou se eu vejo um salmão norueguês de R$ 279,90 por R$ 199,90 o quilo? Como lidar com a tentação de levar aquela posta congelada tão suculenta?

Pensando bem, ficarei dentro de casa. Lá também não correrei o risco de ser sugada pelas vitrines onde ficam os cartazes que gritam: 70% de desconto.

Aquelas lojas com bexigas pretas e música vibrante parecem ter uma espécie de ímã psicológico:

“Ó lá. Chegou mais uma trouxa. Vamos puxá-la pra dentro e fazê-la implorar para que acabemos com seu limite do cartão”.

Sem falar das pessoas que correm com suas bolsas como se não houvesse amanhã. Não há, eu sei. Mas multidões com sacolas me despertam uma carência incontrolável de também carregar uma, para satisfazer meu senso de pertencimento.

Sinto-me impelida a comprar coisas estranhas. Até agora não descobri o que fazer com o último par de um tênis unissex (!) roxo (!!) de camurça (!!!) da Havaianas (!!!!) tamanho 40 (!!!!!) que é ma-ra-vi-lho-so e estava baratíssimo na última Black Friday. Sim, porque eu calço 38 e meu marido 43 (se alguém quiser comprar, tô praticamente doando, aliás. Só hoje).

Não adianta, então, você vir com argumentos. Muito menos me convidar pra dar só uma olhadinha. “La-la-la-la-la-la”. Não estou ouvindo nada.

Preciso lembrar também de, em hipótese alguma, assistir à televisão. Notícias de pessoas que fazem compras de Natal seguramente me afligirão.

Meu computador permanecerá sem conexão à internet. Redes sociais, nem-pen-sar. Se eu quiser, que me contente com o Excel. É até bom, para lembrar das péssimas projeções financeiras que me aguardam para o próximo ano. Assim fico bem consciente. Lógica pura.

E-mails também não serão lidos.

Sou cadastrada em TODAS as lojas do mundo e, portanto, perseguida internacionalmente por promoções tentadoras.

Sou o filé do remarketing. Saio deixando meus cookies acessíveis para quem quiser vir atrás.

Por medida de segurança, inclusive, meu celular estará em modo avião. Portas em automático. Tenho amigos muito bem-intencionados e comprometidos com seus trabalhos nos mais diversos e-commerces e marketplaces do Brasil. Chuvas de compartilhamento virão, que eu sei. Descontos pulando no Whats. Melhor não…

Ah, também vou colocar algodão nos ouvidos. Vai que passa na rua o cara das…

– Pamonhas, pamonhas, pamonhas! Venham comer pamonhas! É o puro creme do milho. Venha provar, minha senhora, é uma delícia! Só hoje, com 50% de desconto na caixa com 25 pamonhas fresquinhas, pamonhas caseiras…

– Moço! Espera! Me dá duas caixas. Pode congelar?