Sabe quando dá aquela vontade de berrar PÁRA-TUDO-QUE-EU-QUERO-DESCER?

Opaaaaa, tive várias dessas vontades na vida. Normal. Quem nunca?

Mas, daquela vez não deu mais. Então, eu berrei – ou algo dentro de mim berrou, alguma parte sufocada lá no fundo do meu esgotamento. Só sabia que tinha chegado a hora de parar tudo e recomeçar.

E assim iniciei essa jornada muito louca de transição de carreira – também chamada de jornada em busca do propósito, ou o que for. Tenho dado a ela o nome de “sabático” – mais chique que dizer “cansei do que fazia e tô tentando me reencontrar nessa vidinha bandida”.

Já discorri um pouco sobre os sacrifícios e implicações dessa escolha, lembrando quão longe do utópico-maravilhoso tudo isso está.

Ok, alívio pela decisão tomada. Sim, certeza de ter feito a coisa certa.

Mas que maçaroca de sentimentos, esse negócio, viu?

Simplesmente porque eu não sei onde tudo isso vai dar!
(Ô, criatura, e quem é que sabe?)

Compreendo que a graça da vida é não saber do amanhã. É lançar-se à jornada, desfrutando dos aprendizados diários, mais que do trunfo da conquista final… Mas, e quando a paciência acaba?

Já aconteceu com você? Do nada, reações extremadas. Patadas gratuitas. Culpo a TPM, a umidade do ar, o babaca do trânsito, quase me esquecendo que SÓ estou mudando em 180° a rota de minha vida.

Olho para aquele ser sufocado que berrou. Vem, vamos conversar.

E lá estamos nós: papo franco, projeções de futuro.

Porém, contrariando a bagagem acumulada e os anos vividos, condeno-me mentalmente por ainda ter dúvidas adolescentes em plenos trinta e poucos anos.

– Pra que sirvo?

– O que quero?

– O que farei da vida?

Deveria ter começado minha transição apenas quando estivesse ciente dessas respostas? Pensando bem, talvez nunca as tenha. Pensando melhor, será que não estou querendo algo incrível demais?

A vida não é tão mais simples que isso? Ou menos extraordinária? Em que galáxia estou colocando minhas expectativas (que deveriam estar na Via Láctea, apenas)?

Felizes aqueles que logo encontraram seu propósito nesta Terra. Que realizam, satisfeitos, o que nasceram para fazer. Que não pensaram demais. Ou pensaram rápido. Que se jogaram, testaram. E, se erraram, recomeçaram.

Por enquanto, deixo-me envolver pela confiança de quem está do meu lado. Escolho admirar quem realmente quer meu bem e me diz: – CALMA!

– Vá fazer as coisas que você curte.
– Viva o que você tem em mãos agora. Como dá.
– Não tenha dúvidas de que as respostas virão.
– Se tudo der errado, você pode tentar voltar.
– Não tem orgulho aqui: tem tentativa e erro, tem autocompaixão, tem Ctrl+Z.

Será que de fato as pessoas mais interessantes são aquelas que até hoje não sabem o que fazer da vida? Nos dias em que sou o auge da impaciência humana, digo: DU-VI-DO.

Cadê a clareza e a maturidade que deveriam estar aqui?

Tenho a certeza de que precisarei de muito mais que trinta e poucos anos para encontrá-las.