Seria uma vergonha ter morado um ano na Espanha e não ter aprendido a fazer paella. Sim, a receita. Cozinhar, mesmo, bonitinho.
Confesso que comer é bem mais fácil. E olha que, lá em Barcelona, provei umas tantas. Desde aquelas – que descobri depois serem congeladas – trazidas direto na panelinha individual pra enganar turista trouxa, até as de verdade, que servem no mínimo 2 pessoas, em restaurantes de $ a $$$. (Se você estiver por lá, veja aqui dicas de onde comer paellas maravilhosas em Barcelona).
Fui a uma fonte extremamente confiável para que me ensinasse: María, minha vizinha querida nascida em Valência, terra onde surgiu a típica paella espanhola.
– Faço paella há mais de 45 anos, guapa.
Ela, fofa, foi didática e me mostrou todos os detalhes.
Como sou legal (e quero manter meus amigos), divido aqui os segredos.
Tudo começa pela compra dos ingredientes: melhor se forem frescos. Como estávamos em Barcelona, essa foi a parte fácil. Bora para o mercado em busca de enormes camarões, lulas, mariscos.
Foi praticamente um assalto. Muitos euros o quilo. Mas tive vergonha de dizer para a tia que eu queria uma paella modesta. Tudo bem. Se é para aprender, que seja direito – me autoconsolei.
Quando ela perguntou se eu queria também colocar coelho, cogitei o arrependimento. Com jogo de cintura invejável, disse que preferia uma paella só de pescados. Típica.
Confesso que, meio em choque, não coloquei a mão na massa. Dei uma de aluna-ouvinte. No máximo, fotógrafa. Bom demais para a primeira experiência “fresca” com frutos do mar.
É um tal de corta lula pra cá, limpa mexilhão pra lá. Mil segredos.
O camarão, por exemplo, só leva sal e fica ali descansando. Os grandes são “enfeite”. Compramos 3 por pessoa.
A sépia (lula), tem que ser bem lavada e depois cortada em tecos. Mas não toda. Tem uma parte do corpo meio nojenta onde fica a tinta que vai para a panela inteira, até soltar o líquido. Só depois é picotada. Mas, calma, chegaremos lá.
A quantidade? Uma lula inteira, tamanho M.
Também poderíamos ter usado uns 500 gramas de camarões pequenos.
Fritamos os camarões em bastante azeite. Reservamos.
No mesmo azeite, douramos uma cebola e quatro dentes de alho em pedacinhos.
Acrescentamos um tomate sem pele cortado em tecos pequenos. Bem de qualquer jeito.
E já podemos juntar a lula, mexendo até a parte nojenta soltar todo o líquido bege escuro.
Nesse momento, podemos cortá-la em pedaços também e continuar fritando. Lenta e pacientemente.
Em paralelo, lidamos com os mexilhões (300 gramas). Precisam ser limpos (raspamos com uma faquinha e tiramos os fiapos que vem grudados, diretamente do fundo do mar). Processo não muito bonito, mas necessário.
Depois, colocamos numa panela tampada (sem água!) e deixamos ferver.
Sim, eles mesmos soltarão água e, quando uma espuma aparecer, podemos apagar o fogo.
– É quase um susto que se dá neles, só para que as conchas se abram.
Descartamos a parte de cima das conchas e deixamos as metadinhas separadas.
Truque importante: pegar essa água que os mexilhões soltam, coar, e jogar na panela.
– Vai dar um gostinho todo especial para a paella.
Quando percebemos que o fritadão tá nesse ponto da foto abaixo, acrescentamos mais ou menos um litro de caldo de peixe. (Detalhe: o processo de preparação desse caldo é um tanto quanto me-do-nho – envolve cozinhar cabeças de peixe – e, graças a Deus, María nos poupou da tortura e já o trouxe pronto).
A próxima fase é acrescentar o arroz (daqueles gordinhos, próprios para paella). Dois punhados por pessoa. Oi? É.
Essas quantidades que mencionei servem quatro terráqueos não muito famintas.
Aí é só administrar o ponto do arroz. Não pode ficar molenga. Não pode secar.
Se precisar, é só ir colocando mais caldo.
Quando estiver já quase pronto, acrescentamos os camarões e os mexilhões.
Deixamos descansar poucos minutinhos (só o tempo de abrir o vinho branco).
E, felizes da vida, podemos saborear a típica paella da María.
Eu, amante de frutos do mar, a-do-ro.
INGREDIENTES PARA A TÍPICA PAELLA ESPANHOLA
Serve 4 pessoas (não muito famintas)
Alho picado – 4 dentes
Cebola picada – 1 unidade
Camarão médio – 500 gramas
Camarão grande – 12 a 15 para decorar
Lula cortada – aproximadamente 800 gramas
Mexilhão – 300 kg
Arroz sem lavar – 8 punhados generosos
Caldo de peixe – Mais ou menos 1 litro
Sal, azeite e pimenta a gosto
E como não lembrar da María, deste dia, da paellha e dos irmãos (Cí e Í). É muita saudade, é muito carinho é muito amor, chega a doer de tantas lembranças incríveis 🙂